segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Sobre as mentiras que eu conto (pra mim mesma)

Fui estudar e acabei dormindo. Acordei depois de meia hora, com tempo suficiente pra tomar banho, me livrar daquela cara inchada de sono e me arrumar tranquilamente pra jantar.

E tô aqui, ainda sem terminar de me arrumar, e com os olhos inchados e vermelhos - não de sono. É a segunda vez nesta semana - e no mínimo a centésima no último ano, ou nos últimos anos - em que eu prometo pra mim mesma de que não dá mais, e de que a partir de hoje eu vou agir como se me valorizasse, pra ver se eu mesma acredito.
Antes eu fazia isso como uma promessa de ano-novo: nunca mais. Desta vez, me sinto como um alcoólatra que vê a bebida na sua frente e repete o mantra pra si mesmo: "Um dia de cada vez...". E cada minuto é um desafio, tentar não torturar a mim mesma depois de ter me habituado a isso durante tanto tempo, achando que isso é que era amar. Mas amar a quem, ao quê, se eu não dou conta nem de amar a mim mesma?
E então eu recaio, e vou de novo procurar - ou criar - motivos que provam pra mim mesma o quanto eu não tenho valido nada. Não é difícil, a história toda depõe contra mim, e muitas das minhas atitudes ainda depõem.

Mas a consciência meio estrangulada me sussurra lá do fundo: "Você prometeu... era só por hoje". Não tá fácil, não tá. Mas eu vou tentar de verdade desta vez. Porque eu aprendi que cada vez que eu mexo na ferida, eu não me contento com a dor surda que isso dá, eu não paro até sangrar. E isso não pode, meu deus, por que uma pessoa faz isso consigo mesma? Que motivos ela tem? Nenhum, diz alguém mais racional aqui dentro (ou lá fora). Nenhum.

Como eu pude deixar chegar até aqui? E misturar tanto as coisas, e deixar tudo nesta bagunça? Eu não quero desfazer os laços, mas eu não posso mais deixar este emaranhado todo me prender assim.

Eu quero poder ir dormir amanhã e pensar: "Eu consegui". E depois, e depois, e depois. Mesmo que me custe a imensa dificuldade de mudar certos hábitos, mesmo que me custe certo luto. Porque essa dor eu acredito que passa. Mas esta aqui está durando demais, e sem nunca diminuir de verdade, eu preciso fazer algo contra isso, eu posso. E eu vou começar por hoje. Um dia de cada vez.

"Eu só queria poder olhar no espelho e ver alguém que valesse a pena. Talvez esse seja o meu mal: não vejo nada"

sábado, 4 de dezembro de 2010

Sobre a viagem - parte VI (Bratislava, Praga e Karlovy Vary)

As fotos da viagem finalmente saíram, em sua versão impressa. Antes do fim do ano e da próxima viagem, como prometido - aos 45' do segundo tempo. Demora chata, mas justificável, já que ninguém tinha muito tempo e paciência pra coletar as fotos de todas as câmeras, organizar e selecionar as que seriam impressas.

Me impressionei com a quantidade de fotos que temos de Bratislava - porque a cidade não é grande coisa,  parece Kaminda Mundi (sabe, no Hopi Hari?!). Pra se ter ideia, o que me lembro de mais legal lá foi um cartaz colorido, escrito 'BratisLove'. A parada na capital eslovaca foi para o almoço, e meu primo resolveu  pedir um prato de gnocchi al sugo. O prato veio, cheio de molho até a borda, meu primo começou a caçar a massa e, cadê? Não tinha. Chamamos a garçonete, que respondeu que aquilo era uma sopa de tomate, não era isso que tínhamos pedido? Ai, essas falhas de comunicação...

No finzinho de tarde chegamos à tão esperada Praga, e já saímos para fazer uma caminhada de umas duas horas pelas ruas do centro antigo da cidade - um horário bem legal, porque não estava quente demais e pudemos ver o pôr-do-sol sobre o rio Moldava (Vltava, em checo), e curtir o clima tétrico que essa arquitetura confere, durante a noite. 

Torre da Pólvora, Praga
A cidade ainda tem a arquitetura antiga toda preservada, o que dá um ar diferente à visita. Pra dar ainda mais clima, de hora em hora, antes do relógio astronômico iniciar sua performance (uma performance mecânica, com figuras em movimento), aparece um cara vestido de arauto medieval, tocando um trompete aos quatro cantos. Muito simpático, por sinal, acenando desde lá de cima, sorridente, quase se jogando da torre da prefeitura.

Além da arquitetura, fomos conhecer também os cristais da Boêmia, famosos, muito bonitos e caros. Foi lá que compramos umas lixas, de vidro, que são boas e lindas, mas dão uma afliçãozinha na hora de lixar as unhas. Pro almoço, dividi com minha mãe um pato assado delicioso, acompanhado de repolhos e pão cozido, e de pivo (a cerveja checa, famosíssima mundialmente), é claro.

Praga é também berço da técnica de teatro negro, então fomos assistir a uma peça - que era sem falas e tinha um enredo bastante bizarro, com alguns elementos de 'Alice', influências culturais locais, circenses etc. A bizarrice beirando o surreal do roteiro faz ficar um pouco cansativo, mas mesmo assim é encantador.

No terceiro dia, saímos da cidade, passamos por campos e mais campos com plantações de lúpulo checo e fomos até o balneário de Karlovy Vary - que é uma dessas cidades cheias de mananciais com águas termais (que até eu acho coisa de velho). Um lugar pequeno e muito bonitinho, no meio das montanhas, com fontes que jorram água sulfurosa a até 60°C - não muito gostosa, por sinal. Estava rolando um festival internacional de cinema, e por um ou dois dias não pegamos o Jude Law por ali. Uma pena.
A maior fonte de Karlovy Vary

Lá eles vendem umas bolachas redondas, de massa parecida com wafer só que com duas camadas apenas, bem gostosas - e iguais às que se vende em Montecatini, um balneário parecido no norte da Itália. Só que os italianos foram mais espertos, e colocaram sobre as bolachas o divino sorvete italiano, e só por isso dão de dez a zero nas bolachas checas. Outra coisa legal que tem em Karlovy Vary são rosas mineralizadas: as rosas são mergulhadas nas águas termais, e os metais das águas precipitam sobre a flor, deixando-a 'petrificada'.

Da República Tcheca, seguimos de avião até a Romênia, em um voo da Czech Airlines que tinha uma aeromoça padrão-Iberia, dessas delicadas. Pra se ter uma ideia, ela gritou com um passageiro porque ele não estava conseguindo colocar a mala no compartimento - e foi tão grossa que o cara não teve coragem de fazer nada além de dizer "Sorry, lady", mesmo sem ter feito nada de errado.

Devo dizer: o que salva nessas companhias aéreas europeias é, no máximo, o lanchinho - que, às vezes, vem com um Milka ou coisa assim. No mais, as acomodações são péssimas e o atendimento, geralmente, é desorganizado e pouco preocupado com a satisfação do cliente. Mas se eu começo a contar histórias aeroportuárias desse tipo aqui, fico até amanhã...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Sobre a (des)ilusão das amêndoas

Farinha láctea só fui experimentar lá pelos 15 anos, depois de muito ouvir reminiscências infantis alheias. E qual não foi meu choque ao provar a primeira colherada e dizer, quase automaticamente: "Hm, tem gosto de infância". E tem mesmo. Uma infância que não me pertence, mas enfim, infância.
Entre as comidas que me lembram minha própria infância, constam coisas não muito comuns: tortilla (do vovô), mingau de maisena (da mamãe), bolinho de espinafre e fígado acebolado (da AABB. Sim, eu comia isso na escolinha. E até hoje adoro.)... D'além-mar, lembro de virem as amêndoas confeitadas e os turrones. Hoje ainda trazemos turrones El Almendro (além de muito Milka, Lindt, Toblerone e conhaque), mas as amêndoas eu não como há muito tempo - só vezenquando, quando vêm em alguma lembrancinha. Lembro que vinham dentro de uma lata média, e eram lindas, coloridas, com aquele cheiro convidativo de açúcar. E, claro, aquele sabor doce que ia se desfazendo lentamente na boca... pra ir dando lugar a um desfecho desagradável. Eu, então, tirava da boca uma coisa meio oval, meio pontuda, feia, marrom e de gosto ruim. Naquele tempo, eu me perguntava por que é que não faziam uma amêndoa confeitada sem amêndoa. Por que, afinal, estragar algo tão gostoso?



Lembro da doçura (mais idealizada que real) sabendo que isto aqui, na minha boca, é muito menos saboroso, e mesmo assim mastigo com força, até com certa vontade. Talvez porque eu ache que é o que me restou, talvez porque... sei lá. E às vezes, com o gosto ainda na boca, acho que não vale a pena e anoto mentalmente: "Evitar". Mas aí eu lembro (ou sinto) a sedução do cheiro açucarado... e lá vou eu de novo. E me pego dizendo pra mim mesma que, afinal, eu não tenho por que esperar mais que isso. A vida não é feita só de confeitos coloridos. E volta a pergunta da infância: por que não?

domingo, 7 de novembro de 2010

Sobre a viagem - parte V (Budapeste)



Buda, o Danúbio e Pest ao fundo, com destaque para o parlamento húngaro.

Budapeste foi, sem dúvida, eleita minha preferida. Logo de cara, o Danúbio me surpreendeu: lindo, coberto de belas pontes e rodeado por uma cidade igualmente bonita. Aí passeamos um pouco, conhecemos Buda - quente, graciosa e com um mirante espetacular - e fomos pro hotel em Pest (um senhor hotel com direito a pantufas pra cada hóspede e essas coisas phynas). Indicaram-nos o café New York, que era ali pertinho, e fomos com roupas e cara de turistas, sem imaginar quão requintado era o ambiente. Mas tudo bem, turista tem direito de ser cafona, usar roupas largadas e ainda ficar boquiaberto com a decoração. Comemos muitíssimo bem por lá e pudemos provar alguns doces húngaros, como as tortas Dobos e Esterházy, além de um pedacinho de fatias Gerbeaud/Zserbó (que veio junto com o café, mas que eles infelizmente não vendiam - eu até quis ir até a Gerbeaud pra comer as originais, mas era meio longe pra ir a pé e estávamos todos bem cansados).
Torta Esterházy. Atrás, torta Dobos.
À noite fomos a um jantar típico húngaro: tomamos palinka (bebida licorosa típica, parecida com anis, de cerca de 40°GL), comemos goulash (sopa/guisado de carne, batatas e páprica) e outras coisas, tomamos o elogiado vinho húngaro e assistimos a uma bonita apresentação de danças típicas. Após o jantar, descemos até o Danúbio (ouvindo uns reggaeton e rumbas) pra um passeio de barco. Simplesmente lindo.
No dia seguinte pudemos conhecer um pouco melhor Pest: visitamos uma das sinagogas da cidade (onde eles emprestam um kipá de TNT pra os homens gói entrarem), o parlamento, a ópera e a basílica de Santo Estêvão - S. István, o rei húngaro e santo que ocupa o altar principal, em vez de Jesus Cristo, e cuja mão direita é exibida diariamente na basílica (mas não vimos).
Dois dias, só dois dias... Mas foi o suficiente pra eu me encantar com a cidade, e com o povo húngaro - que parece ser todo parente da D. Maria e da D. Helena, e que sorri genuinamente quando a gente se esforça pra dizer 'obrigada' na difícil língua magiar ('Közsönöm'), que é diferente de tudo que já se ouviu (tem raízes comuns apenas com o finlandês).
Como muitas cidades do Leste Europeu, Budapeste carece de um pouco mais de cuidados - que, faltando, prejudicam a beleza da arquitetura dos edifícios antigos, que dão todo o charme a uma caminhada rápida pela cidade. Espero poder voltar lá e vê-la restaurada, cuidada, linda como tem que ser.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Random

Eu me lembro da véspera da minha mudança pra Ribeirão. Pra variar, eu passei a tarde inteira na casa dos meninos - desenhos, risadas e essas coisas boas da vida - e, pra variar, meus pais tinham me ligado infinitamente, lá pelas oito da noite, pra eu ir pra casa jantar e fazer as malas. E fui, na companhia do Felipe, que ia pra academia e me acompanhou até uma parte do caminho.

Quando nos despedimos - aquele abraço longo do qual eu nunca quero me soltar - eu perguntei, infantil:
 -Você promete que vai me visitar?

 E ele, com aquele ar de obviedade:
 -Ahm... Não.


E, diante da minha expressão de choque e drama, me explicou que não era certo me fazer promessas que não ia cumprir.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

História clínica de uma colisão

Identificação:
Altmóvel Raposa das Neves, 2 anos, branco, natural de São Paulo, procedente de Ribeirão Preto, de passeio.

QD (Queixa-duração):
Trauma em hemiveículo direito, há 6 dias.

HMA (História da moléstia atual):
Informante relata que, há 6 dias, o paciente colidiu contra um colega ao sair de uma escola em direção à avenida. Disse que, na hora, já pôde perceber lesão importante do hemiveículo direito, especialmente na região da porta dianteira, inclusive com deformação da região. Refere, no entanto, que não houve prejuízo funcional. O paciente deambula normalmente, articula bem os membros e suas atividades normais não foram prejudicadas. A informante relata, entretanto, que a condição do paciente a deixa constrangida, por exemplo, ao levá-lo para passear.

IDA (Interrogatório sobre os diversos aparelhos):
Pele: Deformação de hemiveículo direito, com laceração de cerca de 1m. Nega máculas, pápulas, prurido, cianose, icterícia.
Cabeça: Nega alterações na forma. Nega dor. Nega faróis fraturados ou queimados. Refere bom funcionamento do motor.
Trato gastrointestinal: Refere alimentação a cada 15 dias, aproximadamente, com álcool ou gasolina (geralmente álcool). Hábito intestinal sem alterações. Refere frequente flatulência, límpida e com teores gasosos dentro do preconizado pelo Programa de Inspeção e Manutenção de Veículos em Uso (IM/SP). Nega ruídos anormais.
Aparelhos cardiovascular e respiratório: Nega palpitações, dor torácica, dispneia e DPN. Informante refere que, quando a mesma esquece de acelerar em aclives, o paciente tem tremor e síncopes eventuais, com restabelecimento rápido e de ocorrência rara.
Locomotor: deambula bem, sem claudicação. Nega dores articulares ou sinais inflamatórios.

Antecedentes:
Informante desconhece situações semelhantes no passado do paciente. Refere que o paciente era usado em aulas práticas de direção, e há poucos meses passou a ser trabalhar apenas como veículo particular.
Paciente dorme em local descoberto, e tem atividade regular (de 3 a 4 vezes por semana).

Exame físico:
Bom estado geral, ativo, AAA [acianótico, afebril ao toque, anictérico]. Bastante sujo Corado.
Depressão difusa em hemiveículo direito, com laceração de ~1m não dolorosa, sem sinais inflamatórios. Sem edema de membros. Movimentação articular preservada.

HD (Hipótese/impressão diagnóstica):
Lesão superficial em hemiveículo direito.
Lesão profunda de membro anterior direito?

Conduta:
Retorno em 2 semanas, para internação e correção da lesão, com colocação de prótese de membro anterior.

Obs.: Evidentemente suprimi boa parte da anamnese e e exame físico - não tanto por migué, mais porque não tinha NDN (nada digno de nota) mesmo. Pulei também a parte de exames complementares e avaliação do risco cirúrgico... =p

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sobre o que aprendi no feriado

Teoria narrativa consiste em aplicar uma série de técnicas no sentido de fazer uma pessoa mudar seu jeito de narrar uma mesma história. A pessoa chega contando uma série de coisas negativas e você, com umas perguntinhas aqui, uns comentários ali, faz com que ela conte a mesma história de um ponto de vista menos pessimista - o que ajuda a tornar as coisas um pouco melhores, logo de cara. Exemplo simples: vou contar brevemente como foi meu feriado, sem contar nenhuma mentira, de duas formas diferentes.

1) Em vez de ir pra casa cedo na sexta, fiquei colando painéis a tarde toda. Tarde da noite, jantei um lanche gorduroso em um lugar estranho, dormi pouco, e fui passar o feriado em um Congresso lááá em Minas. Lá, ficamos em filas pra tentar ver as oficinas (porque não tínhamos nos inscrito), assistimos e também conhecemos um cara que era um perfeito idiota. Estava quente, a cidade não era grande coisa e o ar estava muitíssimo seco. Minha amiga minha passou mal, e eu tive dor de cabeça no último dia. Pra piorar, eu estava com uma tosse horrível. Acordamos cedo vários dias, e andamos muito naquele sol inclemente. Na volta, nosso ônibus ficou 40 minutos parado porque o limpador de pára-brisa não estava funcionando.

2) Depois da aula na sexta, fiquei jogando conversa fora com minhas amigas e fui colar painéis. Fiquei um tempão brincando com cola, foi divertido. À noite, jantamos em um lugar que tinha umas maioneses diferentes, temperadas, muito boas. No dia seguinte fomos pra Uberaba, no Congresso de Medicina de Família e Comunidade (que é um tema que me interessa muito), e participamos de várias oficinas interessantes e divertidas. Tínhamos perdido as inscrições pra essas mesmas oficinas mas, por sorte, conseguimos ver praticamente tudo o que queríamos. Conhecemos gente legal, tivemos discussões produtivas... Eu estava com tosse, mas várias pessoas se solidarizaram - desde os colegas até o garçom do hotel, todos muito simpáticos e me oferecendo água e receitas milagrosas pra tosse. Comemos pão-de-queijo, e encontramos um lugar que vendia sorvete muito barato. Na volta, fomos abençoados com chuva (que não víamos há tempos) e, mesmo com um imprevisto, não chegamos em casa muito mais tarde do que imaginávamos.

Viram? O mesmo feriado, duas versões completamente diferentes.
Mas, confesso, o primeiro exemplo que me ocorreu foi o seguinte:

1) Congresso, palestras, acordar cedo, sol, ar seco, tosse, dor de cabeça.
2) Dia do sexo, Bombs, batida de morango com leite condensado e cachaça, nosso quarto de hotel (com banheira).

;D

Pra vocês verem como tudo é relativo, e depende de como se conta ;)
Seus pervertidos! =p

***


Anotações de uma apresentação sobre saúde mental:

Desterritorialização.
Extrapolar os próprios limites por incapacidade de lidar com o caos interno (desencadeando explosões, surtos).
Importância de restabelecer os limites (do próprio corpo, inclusive) para ajudar a superar crises - cobertor, piscina, abraço.
Angústia

[e então eu aprendi a definir o que, no fundo, eu já sentia e sabia faz tempo: quando eu preciso do seu abraço, não é só ao seu calor que eu busco. Eu procuro principalmente essa capacidade que você tem de me devolver pra mim mesma]

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sobre a viagem - parte IV (de volta a Viena)

Quando tiver uma oportunidade, assista a uma novela russa: é realmente engraçado. Tive a oportunidade de ver no hotel, quando voltamos a Viena, e conferir o mocinho scarface, a mocinha com dentes bizarros e os diálogos (que são em russo, precisa dizer algo mais?). O programa deles que simula julgamentos também é engraçado, com aquele ar trash de programa do SBT. Falando em Rússia, a embaixada deles em Viena ficava bem atrás do nosso hotel, com uma igreja ortodoxa linda, de cúpulas douradas que brilhavam sob o sol. 

No saguão do hotel, já vimos meia dúzia de brasileiros de verde-e-amarelo, se preparando pra ver o jogo Brasil x Holanda e curtir sua histeria juntos. Sentimos um pouco de vergonha alheia, e nos esforçamos pra atravessar o saguão sem que nossa nacionalidade fosse identificada por nossos compatriotas. Brasileiro tem mania de achar que, só porque vocês são do mesmo país, são obrigatoriamente amigos de infância. Não, querido, eu não sou seu amigo, eu nunca te vi e não vou participar disso e deixar os transeuntes pensando que brasileiro é tudo retardado. É, eu sou antissocial. Mas prometo que vou tentar ser menos preconceituosa.

À noite, fomos ver um concerto no palácio Auersperg, muito bonitos (o concerto e o local). Eu não entendo nada de música, mas eu sei que era lindo de se ouvir, isso me basta. Depois fomos pra um jantar com comida típica mediana e garçonetes a caráter e mal-humoradas. Durante o jantar, dois caras tocavam músicas típicas da Áustria e dos países de origem dos turistas presentes. Tocaram um bocado de boleros mexicanos, alguns tangos argentinos e, quando alguém pediu uma brasileira, eles tocaram Aquarela do Brasil, é claro (que todo mundo conhece mas, no fundo, ninguém sabe cantar). Pediram mais, e eu desconfiei que os caras não soubessem. Ah, não, sempre tem também Garota de Ipanema pra poupar esse constrangimento. Mas não peçam mais que isso. Aliás, sugiro que não peçam nem isso - os boleros e tangos e pasodobles estavam bem mais divertidos.

No ônibus de volta, colocaram um CD com músicas supostamente lat(r)inas, pra agradar os turistas. Aí tinha um bocado de reggaeton, e de repente começou algo brega, em português. Português de Portugal, mas era português, uai. Qual não foi nossa surpresa ao constatar o que diziam os versos da canção: 

"Eu gosto de mamar nos peitos da cabritinha
Mamo a hora que eu quero, porque a cabrita é minha"
(A Cabritinha - Quim Barreiros)

No dia seguinte, fomos conhecer os belos jardins do palácio Belvedere e o Palácio Schöbrunn - que tem jardins mais bonitos ainda e foi residência da chatinha da Sisi e da fodona Imperatriz Maria Teresa (mãe da Maria Antonieta, aliás), além de ter sido palco de um concerto de Mozart quando ele ainda era criancinha. Passamos em frente a um Museu de Medicina (que eu queria visitar, especialmente porque foi em Viena que surgiu essa história de lavar as mãos pra controle de infecções) mas, pra minha infelicidade, não deu pra ir visitar. Assim como não deu pra ir ver O Beijo, do Gustav Klimt, e nem dar uma passadinha no café Sacher pra um pedaço de torta... É, excursão tem disso mesmo: a gente corre, não vê metade do que queria, mas pelo menos já tem uma boa ideia do que visitar quando vier da próxima vez. ;)


O que me decepcionou mesmo em Viena foi o Danúbio. Eu imaginava que ele era lindo como o Sena, só que azul e com casais dançando valsa à margem. Lindo de passear ao longo dele, ouvindo Vienna ou mesmo aquela clássica do Strauss Jr. Mas ele não é lindo, muito menos azul. Mas dei a ele mais uma chance, em Budapeste...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Sobre presentes de aniversário

Em exatamente um mês, eu entro no meu vigésimo terceiro ano de vida (por favor, sem piadinhas sobre minha aparência acabada, minha personalidade idosa ou minha rabugice). E é claro que isso não quer dizer que você tem que me dar um presente. Eu mesma, você sabe, raramente cumpro essa convenção que são os presentes de aniversário. E, se cumpro eventualmente, é com um bocado de atraso (pergunta pra Camila).


Portanto, se você me der parabéns no meu aniversário, eu me dou por satisfeita. Satisfeitíssima, se vier com um abraço e um sorriso junto. E se esquecer, também, tudo bem. Eu mesma já esqueci, mais de uma vez (se você vier me dar parabéns de manhã, por exemplo, eu vou demorar uns 10 segundos pra entender por quê. É, sou lerdinha).


Talvez isso tenha a ver com o fato de que, em casa, a gente nunca foi muuuito ligado com datas e presentes - nem nas datas ultracomerciais, como o dia das Mães. Daí, possivelmente, o meu 'desapego' com essas coisas.

Mas sei muito bem como é difícil ver o aniversário da pessoa chegando, e você querendo dar um presente pra ela, por razões diversas, e sem conseguir pensar em algo que se encaixe no gosto e necessidades do aniversariante, e ainda esteja nas suas possibilidades financeiras.


Pensando nisso, venho elaborando uma lista de coisas compráveis das quais eu gosto e/ou preciso. Aí, caso você queira me dar algo e esteja sem ideias, pode se esbaldar ;p


» Pantufas. Mas que sejam escuras, pra não ficarem visível e imensamente sujas.
» Mural com ímãs, pra eu colocar minhas fotos.
» Adesivo de parede do Calvin & Hobbes com esta figura

update: Meus queridos Bê, Bombs, Kéka, Lots e Marcelo me deram o mimo - que eu ainda não colei na parede #fail.
» Jantar/reunião com os amigos. Nada demais, eu só não quero ter que organizar e convidar e tal, tenho preguiça =p
» Bombons Nhá-Benta, da Kopenhagen. Os bombons, e não as Nhá-Bentas!
» Caixas organizadoras com tampas coloridas. E que uma seja azul-turquesa, é claro!
» Sorvete Häagen-Dasz.
» Caixa de ferramentas. Martelo, alicate, chaves de fenda etc...
[este, acho que minha tia vai providenciar]
» Cobra, daquelas de porta. Bonitinha!
[a Lots já disse que vai dar este]
update: ela, de fato, m'a deu. Uma cobra linda chamada Lots ^^
» Um robe-de-chambre que nem o da Lots: leve, lindo e escuro.
» Chocolate Lindor #nham
» Canecas e/ou almofadas Ctrl+Alt+Del
» Azul-turquesa. O que você encontrar e achar bonito nessa cor, eu vou achar lindo.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Sobre decisões, livros e o apelido

Decidir é uma coisa complicada. Pra mim, principalmente - tenho dificuldades pra tomar qualquer tipo de decisão, mesmo que ela seja banal e não haja muita diferença entre escolher isto ou aquilo. Como se não bastasse, fiz amigos também indecisos. Indecisos a ponto de perder 40 minutos (ou mais) discutindo dentro do carro onde vamos jantar - pra acabarmos comendo no Subway, como de costume. Por sorte, temos a Tapioca e o Marcelo que tornam nossa vida mais simples, decidindo sugerindo pra gente o que fazer.


Pois bem, o dilema atual é o dos livros. No primeiro ano, eu tinha que escolher um atlas de Anatomia pra adotar e comprar, entre o Netter, o Prometheus ou o Sobotta. Sem saber qual comprar, resolvi ir levando como desse até descobrir a qual eu me adaptava melhor. Descobri que o Prometheus é bom, o Netter é suficiente e o Sobotta é confuso (eu nunca achava o que eu queria). E descobri que não precisava realmente de um atlas de Anatomia - naquele tempo, eu ainda contava com minha memória fotográfica. Comprei um Moore, já que meu fraco era mesmo a teoria, e ir e vir da biblioteca com ele não era nada agradável. Usei pouco, é verdade, mas achei que me foi útil.

No segundo ano, eu precisava escolher um livro de Fisiologia.: Berne, Guyton ou Margarida. Adiei a compra novamente, porque alguns módulos da Fisiologia eram melhor explicados em um, outros em outro. Usei a biblioteca, peguei livro emprestado, tirei xerox, me virei. E não comprei, também. Mas descobri que, se eu fosse comprar um, eu compraria o Berne. Achei mais didático, menos enrolado e chato e confuso que os outros (o Guyton me fazia desistir nas primeiras linhas, o Margarida me cansava e confundia mais que esclarecia).

Agora, é a vez de escolher um livro pra Clínica Médica: Cecil, Harrison ou Lopes. Escolha mais difícil, porque são livros que vão me acompanhar por mais tempo, o que me pressiona a escolher bem (e quando se paga quinhentos reais em um livro, não se pode dar o luxo de arrependimentos). Mas e se o Lopes não tiver tudo o que eu preciso? E se o Cecil for muito pesado pra mim? E se o Harrison for confuso e cansativo? Ai, não sei!
Perguntei pra algumas pessoas a impressão delas sobre os livros, e quando a Bê me disse que ainda não usou o Cecil "mas o Vô gosta", eu pensei que o Vô não é parâmetro - o jeito dele de aprender é muito diferente do meu. Mas aí pensei que a Bê e a Tapioca e o Salsa e o Sabão e todos os que eu consultei também aprendem de forma bem diferente da minha. Porque eu nem sei, na verdade, como é que eu aprendo. Meu jeito de estudar é esquisito e nem sempre funciona - por isso, aliás, é que eu sou a Alt.

Parênteses.

Pra quem não sabe, repito a longa história (que o Kalango cansou de ouvir): meu apelido surgiu na minha primeira conversa com meu veterano, quando ele decidiu me adotar. Ele disse que não teria muito material de estudo pra me disponibilizar, e eu disse que não tinha problema porque meu método de estudo nunca foi muito ortodoxo, mesmo.

-Então, você estuda de maneira alternativa?

No dia seguinte, eu estava batizada: "Não pensei em nada mais criativo, então vou te chamar de Alt mesmo. De Alternativa.". Não achei muito legal, no início (especialmente quando tinha que explicar pra todo mundo a história toda), mas vesti a camisa, logo me acostumei e gosto muito. Criei até uma linhagem adorável, que inclui a mim, minha caloura Dell e minha caloura-neta Ctrl.

Fecha parênteses.

Voltando aos livros, bom mesmo foi na Patologia: o Robbins é o único livro realmente útil pra gente nessa matéria, e a gente usa bastante (ainda que ele fale demais e diga de menos, e me deixe cansada), então eu comprei. Ou na Farmacologia, em que eles indicam o Rang pro 2º ano e o Goodman pro 3º. Aí eu não tenho que decidir, olha que legal!

Falando em decidir, preciso voltar ao meu dilema... E aí, Cecil, Harrison ou Lopes?

P.S.: eu já vinha me sentindo uma criatura sugada até os ossos pela Medicina, uma vez que boa parte das minhas conversas tem a ver com a faculdade (o que até dá pra entender, já que isso é a maior parte do que eu vivo atualmente). Mas fazer um post citando Robbins, Berne, Sobotta e Cecil foi o ápice!

domingo, 8 de agosto de 2010

Sobre a viagem - parte III (Salzburg e Füssen)

Salzburg é uma cidade graciosa a 300km de Viena, famosa por ser o berço de Mozart e também muito visitada pelos fãs d'A Noviça Rebelde (tem até uma excursão de 4h em que se visitam as locações do filme). Lá conhecemos um taxista chamado Sena, muito simpático e que fala português, tem uma casa em Vila Velha-ES e adora Serenata de Amor. Passeamos a pé ali pelo centro, vimos o Rio Salzach e a Mozart Wohnhaus (onde ele morou) e visitamos os belíssimos jardins do Palácio Mirabell (construído pelo bispo Wolf Dietrich para sua amante judia, Salomé Alt)

Comemos no Die Weiss, um biergarten charmosinho com boa comida e boa cerveja. Recomendo o Wiener Schnitzel (filé de carne de porco empanado, acompanhado de batatas e geleia de cranberries); a carne de porco assada com chucrute e knödel (pão cozido); e a salsicha com chucrute e batatas ao kümmel - acompanhados de weissbier (a pilsner deles também é ótima, mas seu amargor não faz muito meu tipo). Por lá, eles têm o hábito de trazer água com gás sempre que você pede água - então, se quiser sem gás, é bom especificar.
Carne de porco assada, chucrute e knödel,
com weissbier

No dia seguinte, enfrentamos 6 horas de trem no trajeto Salzburg-München-Füssen pra visitar o castelo Neuschwanstein em esquema bate-e-volta. O castelo - que é lindo e, reza a lenda, inspirou o castelo da Cinderella de Walt Disney - fica sobre um monte pertinho da vila Hohenschwangau, que por sua vez fica a uns 10 minutos de Füssen. Comemos uns sanduíches ótimos e subimos rapidamente, sem deixar de apreciar a vista, pro nosso audio-tour no castelo em português de Portugal (compreensível, interessante, e mesmo assim muito engraçado).

A visita demorou mais do que previmos e nos fez correr como loucos pra não perder o trem de volta - e descobrir, faltando 15 minutos pro nosso trem partir de Füssen, que em Hohenschwangau não há taxis. Felizmente, a moça que trabalhava nas informações turísticas chamou um táxi pra nós em caráter de urgência (que, quando chegou, quase foi ocupado por uma desavisada) e, incrivelmente, conseguimos chegar na estação em tempo. E aí, mais seis horas de viagem de trem, apreciando as paisagens do interior alemão: casas bonitas com floreiras, jardins com coelhos (que ficam em caixas de tela, comendo a grama e engordando), painéis de energia solar, alemães ruidosos em idade escolar e aquele cheiro de esterco que me lembra a Galicia...

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Sobre a viagem - parte II (Viena)

Soneca em Frankfurt. Dá-lhe Lufthansa!
Depois de umas três horas de espera em Frankfurt e mais um pouquinho de avião, chegamos finalmente a Viena. Exaustos. Nossos planos: tomar um bom banho, comer qualquer coisa ali por perto e dormir o sono dos justos - inclusive porque, já na manhã seguinte, partiríamos pra Salzburg.

Pois bem, estava eu me preparando pro meu banho quando ouvi um barulho estranho no corredor.
-Mãe, você ouviu isso?
-Parece que estão falando alguma coisa, vai lá fora ver.

Abri a porta e pude entender o que dizia o alto-falante: "Achtung, achtung: Dies ist der Brandmeldeanlage. Attention, attention: this is the fire alarm". Fiquei na dúvida se seria incêndio mesmo ou só um treinamento, sei lá. Em todo caso, pegamos o essencial (documentos, objetos de valor... no caso da minha prima, um par de chinelos Havaianas) e descemos pelas escadas até o andar em que estavam meu primo e minha tia. E cadê minha tia?
-Ela subiu pro andar de vocês pra levar algo pra Bea e ainda não voltou.
-Ué, mas no meu quarto ela não apareceu...

Enquanto minha mãe foi procurar minha tia, os outros descemos até a saída de emergência, que dava na rua. Atravessamos e ficamos que nem bobos olhando pra cima, pra ver se descobríamos o que estava acontecendo. Devia ser sério mesmo, o carro de bombeiros luminoso ainda estava ali na porta, embora não houvesse sinais de agitação. Perguntamos daqui, perguntamos dali, ninguém sabia. Minha mãe e minha tia não deram nem sinal. Depois de certo tempo, seguimos o fluxo de volta pro hotel, e a recepcionista nos disse que tinha sido só um alarme falso.

De volta ao quarto, lá estava minha tia, que logo apontou um dedo acusatório pra minha prima.:
-Foi culpa sua!
-Culpa minha?
-É! Por culpa sua eu apertei o alarme de incêndio!
-Não acredito... Foi você que apertou? Hahahahaha
-Eu fui levar estas roupas pra você, e como era só um andar eu fui de escada, mas fiquei presa. Todas as portas que eu encontrei estavam trancadas, eu fiquei apavorada e não consegui chamar ninguém. Então eu vi um botão "Emergência" e apertei, ué.

Nada mais justo, todos concordamos - e saímos pra comer um toast de presunto e queijo Gouda (num lugar em que ninguém entendia o que era mustard, mas trouxeram uma maionese divina) e a famosa e deliciosa Sachertorte.

O problema é que o alarme de incêndio acionava automaticamente os bombeiros - que, apesar de terem achado muita graça na história, cobrariam uma multa pesada do hotel pelo alarme falso. E o hotel, é claro, repassou a exorbitância de 400 de multa pra gente. Protestamos: o caso foi emergencial (e não uma brincadeira) e em momento algum fomos avisados de que as portas nas escadas só se abriam com o cartão que abre a porta do quarto. Não pagaríamos aquilo, pelo menos não sozinhos.

Discute daqui, discute dali, reveza telefone pra argumentar com a recepcionista (já que não havia gerente nem ninguém com um mínimo poder de decisão pra resolver esse problema), e a noite ia avançando... E tudo o que eu queria era dormir, meldels!

(foto especialmente pra Bombs)
Encurtando a história: na manhã seguinte (quando finalmente apareceu alguém da gerência), acabamos concordando em pagar a multa, ainda que contrariados, porque vimos que não haveria negociação alguma e precisávamos seguir viagem. Fiz uma reclamação formal ao hotel, dizendo que passamos por uma situação desagradável seguida de constrangimento, e que em nenhum momento recebemos qualquer tipo de orientação ou apoio por parte da equipe deles - que, inclusive, ameaçou chamar a polícia diante da recusa civilizada em pagar uma dívida que não era de nossa responsabilidade.


Claro que a minha reclamação nunca deve chegar a lugar nenhum - mas fica aqui registrada minha indignação. E uma dica: não use as escadas de emergência do hotel InterCity, em Viena. E não aperte nenhum botão, sob nenhuma hipótese.



domingo, 1 de agosto de 2010

Sobre a viagem - parte I

O voo saía às 18h. Mas tínhamos que fazer o check-in com antecedência, era dia de jogo do Brasil na Copa... Com medo do trânsito, resolvemos não arriscar, saímos cedo e acabamos nos adiantando demais. Resultado: 5 horas de espera no aeroporto.


Enquanto a maioria das pessoas ia se ajeitando no saguão pra ver o jogo do Brasil, eu me encostei numa cadeira e, já que não conseguia dormir, resolvi observar o movimento. E qual não foi minha surpresa ao ver, bem na minha frente, um homem com uma camiseta com letras enormes: PINTO. Deve ser estrangeiro, só pode. Mas, calma, ele tá torcendo pro Brasil. Gente, alguém avisa esse moço que isso não é coisa que se escreva numa camiseta. Infelizmente, não consegui tirar uma foto - mas pelo menos deu pra usar todo meu estoque de piadas prontas ("Será que ele deixa eu fotografar o pinto dele?!").


Intervalo: "Tô com fome". Caipiras Precavidos que somos, tiramos da mala uma lata de Pringles e seis sanduíches de salame. Nada como uma boa farofada pra aquietar os estômagos e divertir os presentes. 

Recomeçado o jogo, eis que eu noto uma figura curiosa em meio aos torcedores. Uma freira baixinha, empolgada com o jogo e japonesa. Alguém já viu uma freira japonesa? Eu nunca tinha visto, fiquei chocada. Mas meu choque se transformou em frustração quando eu a vi embarcando pra Santa Cruz de la Sierra e concluí o óbvio: ela não era japonesa, era boliviana. Uma farsante, assim como a Tapioca (nossa japonega paraguaia).


Já no avião, descobri que o iTunes me sacaneou e só colocou 24 das minhas 1200 músicas no meu iPod. Mas quem liga pra isso quando você tem 18 estações de rádio no avião? É... não, não é exatamente consolador. De qualquer modo, as rádios de música japonesa, chinesa, coreana e indiana renderam umas boas risadas.


Infinitas horas depois, estávamos em Frankfurt, correndo pra não perder a conexão. Gente, que tipo de arquiteto projeta um aeroporto em que, pra ir de um terminal a outro, você tem que descer SEIS lances de escada pra, logo em seguida, ter que subir tudo de novo? É, bem que dizem que alemão gosta de complicar... Mas eles são simpáticos, reconheço - muito mais do que eu esperava. A comissária até me ensinou a pedir suco de maçã em alemão, e escreveu no meu caderninho pra eu não esquecer: apfelsaft. E ensinou 'desculpa', também: entschuldigung (14 letras, sendo 10 consoantes, pronunciadas em décimos de segundo).


Apesar da correria, perdemos a conexão. Pudera: foi a primeira vez na minha vida em que vi um voo partir antes da hora prevista. Isso mesmo: chegamos ao portão de embarque às 14h45 e o voo das 14h50 já tinha decolado. E essa foi só a primeira peça que a Lufthansa nos pregou...

terça-feira, 27 de julho de 2010

Sobre a viagem - Introdução

2010. Terceiro ano da faculdade de Medicina. Pela primeira vez em ânus anos, eu teria direito a um mês de férias de inverno. Um mês inteirinho, desde que escapasse das recuperações.
Mas isso não seria problema, eu disse pra minha mãe. Afinal, agora o curso estava mais tranquilo e mais interessante - se eu não peguei rec no 2º ano, que foi o fundo do poço, não seria agora. Então, pode marcar a viagem.

Ideias pra cá, roteiros pra lá... Disney? Cuba? Canadá? Leste Europeu? China? Eu recebia mensagens da minha mãe, logo cedo ou no meio da aula, me fazendo perguntas difíceis como: "E aí, Disney ou Cuba?". No fim, pela compatibilidade de calendários e tal, decidimos pelo Leste Europeu.

Viagem marcada, ocupando até o último dia das minhas quase-longas férias. Provas feitas, notas que não saíam, aquele medo cão de um deslize me deixar de recuperação (quando suas notas são medianas, o menor deslize as torna insatisfatórias, ou seja: rec).
-Mãe, eu não sei se deu pra tirar 5. Comofas?
-Ah... não dá pra remarcar a passagem, então você vê o que dá pra fazer, faz a rec antes, sei lá. Na pior das hipóteses, você cai de turma, ué.

Oo

Enfim, escapei (com certo louvor, até) das recuperações, e lá fomos nós. E eu, desta vez, munida de um caderno de notas.

Desde que me lembro, minha mãe faz uma espécie de diário de viagem: leva um caderninho onde anota os lugares que vimos e suas respectivas histórias, algumas curiosidades, informações úteis (câmbio, despesas, cornograma cronograma etc) e até as encomendas do DutyFree.

Este ano, resolvi aderir à ideia. Caderninho e caneta à mão, fiz minhas notas aparentemente aleatórias sobre lugares, pessoas e comidas, além de ter à mão os endereços dos amigos e um lugar para brincar de forca/stop/jogo-da-velha com a família nas horas de tédio.

Não pretendo ser chata a ponto de narrar detalhes sobre cada um dos minutos que passei viajando. Mas também não quero fazer como o Alvaro que, além de não tirar a foto que me prometeu, acabou não postando nada sobre a viagem que fez.

Liviagens, não é esse o nome? Pois bem, aqui vai mais uma! ;)

domingo, 20 de junho de 2010

Sobre o (meu) domingo

(sem coerência, coesão ou qualquer preocupação literária/discursiva. Fiz mais pra desaguar a vontade de digitar sem fim, sem pensar.)

Domingo com cara de domingo. Sem Faustão e Fantástico, grazadeus, mas com cara de domingo. Um pouco modorrento, coisas pra fazer e pouca vontade. Louça, livros, bagunça, pijama. Tudo atrasado, mas é domingo, me deixa curtir este ócio vazio e nem tão prazeroso.

Amanhã eu vou pra casa. Mamãe tá com saudade. E eu também tô.
Mas meu fim-de-semana não foi de saudade, como eram os fins-de-semana em Ribeirão, no começo. Hoje é o 14º dia que eu passo aqui, direto, e não me sinto torturada e nem tô em contagem regressiva. Eu passo muito tempo aqui em casa, sem fazer nada, mas isso não me consome e eu não quero ir embora correndo pra São Paulo. Eu tô bem. É a minha casa, agora, e não só meu dormitório.

Teve jogo do Brasil. E eu não vi, porque não tô a fim de ver nada desta Copa. Nada mesmo. Tô num bode absurdo desse clima. E eu não encho o saco de ninguém dizendo que a Copa é uma inutilidade sem fim, que só é mais um pedaço da política do pão-e-circo e blablablá. Porque também tô no maior bode desse discurso pseudo-intelectual. Acho ótimo que as pessoas se divirtam, e também me sinto no direito de não achar isso divertido e preferir ficar na minha casa curtindo meu marasmo.
Me perguntam se eu vou ver o jogo, e eu digo que não. Porque não pretendo, ué. E me olham como se eu fosse uma aberração, como se fosse doença grave e contagiosa. Não, não, acho que contagiosa é essa histeria aí. Gente dirigindo loucamente, barulho demais, fixação.
Claro que nem todo mundo está realmente nessa vibe futebolística: eu tenho (todo mundo tem) muitos amigos que só fazem disso um pretexto pra se reunirem e tal. Mesmo assim, eu prefiro ficar. Eu, meus hambúrgueres, minha Coca-cola. Arranjem outro pretexto, arranjem uma reunião sem pretexto, e eu posso pensar em ir. Pois é, como sou antissocial. Tá, e daí?

Minha mãe tinha razão quando disse que eu não podia ficar muito tempo morando sozinha. Eu já sou bicho-do-mato, e ainda agora tenho uma toca só minha. Mas me deixa aqui, agora. Você sabe que eu não sou sempre assim. Todo mundo tem seus dias assim ou assado, e estes dias eu quero só ficar comigo. Numa boa.

Também não gosto quando vou me reunir com amigos que não vejo há muito tempo e sugerem cinema. Pô, a gente tem só uma tarde em milênios pra ficar juntos e vocês querem passar metade dela em uma sala sem nem poder interagir e conversar? Desculpa, só gosto mesmo de ir no cinema com gente que eu vejo sempre. E mesmo assim, só se eu estiver no clima e/ou achar que o filme vale a pena.

É, eu sou muito antissocial. Mas não fico fingindo que tenho coisas pra fazer, que estou com dor de cabeça. Eu digo "Não, não tô a fim". E não sei se é bom ou ruim - acho que isso me faz menos hipócrita tanto quanto me faz mais antissocial.

Minha mãe tinha razão. E talvez ele também tenha razão (desde os tempos em que eu nem morava sozinha): eu sou uma velha rabugenta. Mas você sabe que eu não sou sempre assim, então me deixa aqui. Comigo. Com minha Coca-cola. Numa boa.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

(drama) sobre o ponto final

Abriu os olhos e encarou o teto: será que foi real? Repassou mentalmente, em uma fração de segundo, os acontecimentos da noite anterior e teve certeza de que não havia sido apenas outro sonho ruim - a ligação ainda registrada no celular e até as colheres sujas de sorvete na pia atestavam que a realidade era mesmo aquela. E agora? Fechou os olhos, tentando não pensar e aproveitar os minutos de sono que lhe restavam. Em vão, é claro: encolheu-se, estirou-se, revirou-se na cama até que o despertador inclemente avisou que um longo dia começava. 

Banheiro, cômoda, geladeira, celular. Pensou em colocá-lo no bolso, acabou jogando na mochila: não precisava mantê-lo à mão - agora, não tinha mais nada pra mandar ou pra esperar. Não mais. Mochila nas costas, fones nos ouvidos. Música atrás de música, tentando encontrar algo que se encaixasse, mas nada parecia se encaixar.

Aulas, colegas, sorrisos sociais. Chegou a hora do almoço e ela vagou por entre os prédios e por entre as pessoas, desorientada. Não sabia onde ir e com quem, não sabia o que fazer com o próprio tempo. Almoçar, talvez? Parecia uma ideia razoável, mas só de pensar nela seu estômago se revirou como não fazia há muito tempo - como se o fato de sua mente estar digerindo algo já exigisse esforço demais.

O dia foi passando, lentamente. E a cada minuto ela se pegava pensando nele, querendo contar dos acontecimentos do seu dia, esperando que ele fizesse contato ou, magicamente, aparecesse no fim do corredor. E a cada minuto, a Razão dentro dela dizia: "Não, você não deve mais pensar nisso". Ah, que ódio daquela Razão censurando-a, como se fosse fácil não pensar, não querer, não esperar!

Foi um dia longo, e mais longas ainda seriam as horas que precederiam seu sono: a certeza dolorosa de que o boa-noite não viria, a Imaginação colocando-o na cama ao seu lado (e a Razão violentamente levando-o dali para muito longe), os pensamentos desenfreados, o corpo encolhido sobre si mesmo, as lágrimas quentes no rosto,... Ela dormia sozinha toda noite mas, naquela em especial, parecia sobrar mais espaço na cama (e menos, muito menos espaço na sua cabeça). E, de uma maneira estranha, o frio de maio pareceu ser pior naquela madrugada.

As madrugadas continuaram frias, assim como as canções, como as paixões e as palavras manhãs e finais de tarde... Mas ela foi se acostumando, devagar, com a ausência - ainda que às vezes o universo parecesse se organizar todo só pra que ela lembrasse dele. No início, mesmo as lembranças boas (ela, afinal, teria alguma lembrança realmente ruim?) lhe remetiam ao vazio que ele tinha deixado, e doía. "Por quê?", ela se perguntava incessantemente, procurando algo no céu de brigadeiro.

Ainda que ela conseguisse uma resposta justa, isso não mudaria os fatos. No fundo, ela sabia que a maldita Razão tinha lá sua razão: o que ela tinha a fazer era aceitar. E aceitou, aos poucos, confiando nas mãos do Destino e sem se arrepender de suas próprias escolhas. E aprendeu a cultivar a saudade em sua forma mais gostosa, que é a certeza de que valeu a pena cada momento.

"E vamos terminar
Inventando uma nova canção
Nem que seja uma outra versão
Pra tentar entender que acabou"

domingo, 13 de junho de 2010

Sobre cultura inútil

-Alt, me responde uma coisa, você que sempre sabe de coisas inúteis...

-Ah, valeu, Marcelo!

-É verdade! Acho que você vai saber me responder isso: por que é que os macaquinhos atiram cocô nas pessoas?

-Hm, não sei... Mas sei que os babuínos fazem isso mais do que outros macacos!

- Oo

-É por isso que, no Zoológico, eles ficam atrás de vidros, e não de grades!

-Hahahaha, tá vendo... Você nunca me decepciona =p

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sobre a beleza

Eu me dirigia à minha carteira pra mais três dias de vestibular quando a vi. Ela estava sentada, lendo, à janela - e na minha lembrança parece que o sol a iluminava brandamente, mas talvez seja só poesia da minha memória. O corpo de proporções ideais dentro da simplicidade do jeans e regata, os cabelos negros e cacheados emoldurando um dos rostos mais belos que eu já vi. Ela se dirigiu a alguém e eu pude ver seus olhos muito azuis e seus dentes perfeitos. E, até que minha prova começasse, eu não consegui fazer outra coisa senão contemplá-la.


Mais do que a simples beleza - que ela tinha de sobra e parecia nem se dar conta - ela tinha, não sei, algo de muito encantador. E eu quis até dizer pra ela que a achava muito bonita (não disse, porque pensei que ela ia achar muito estranho e/ou inconveniente). Mas, mais que isso, eu quis ser como ela. Porque, assim, eu aturdiria àquele vinha me atordoando. Eu achava que, com aquelas feições, eu lhe seria irresistível e o deixaria deslumbrado do mesmo modo como eu o vira deslumbrar-se com outras. Tolices, tolices...


Hoje, ainda, eu às vezes acordo com vontade de ser estonteantemente bela. Dessas belezas de comercial de absorvente, que andam na rua com vestidos esvoaçantes e dão torcicolo em todos os homens pelos quais passam. E penso que, se cuidasse um pouco da minha aparência, eu até poderia atrair alguns olhares. Mas isso não basta - nesse dias eu queria era parar o trânsito mesmo, no maior estilo sou-uma-diva.

Outras vezes, eu me pego desejando ter outro tipo de beleza (que nem sei se pode se chamar assim): aquela aura encantadora que certas pessoas têm e fazem a gente se apaixonar por elas no primeiro sorriso. Uma espécie de beleza doce que parece ter nascido com elas e que eu sei que nunca vou ter, apesar do meu esforço diário. Uma beleza que enternece, e faz sorrir e pensar em como é bom estar presenciando aquilo.


E, por vezes, ainda conservo um pouco da tolice de tantos anos atrás, e perco milissegundos acreditando que talvez a aparência seja o problema e que, se eu acordasse milagrosamente diferente, talvez ele me notasse como eu gostaria. Tolices, ah, tolices...

"Passa
Como que nua
Calma
Finge que voa
Brasa
Chama na areia
Bela
Como eu queria


Magra, leve, calma
Toda ela bela
Tudo nela chama "


(Magra - Lenine/ Ivan Santos)

terça-feira, 6 de abril de 2010

Sobre o frio, e mais

Eu sei, 22°C não é exatamente friiio. Mas sentir os dedos endurecerem de frio em Ribeirão Preto em princípios de abril não faz o menor sentido, garanto. E eu olhei o céu e senti o ar frio e úmido e pensei quase com nostalgia: "Que dia mais paulistano..."

- Mas você não é de São Paulo? Devia estar acostumada, em São Paulo faz frio...
- Faz, mas em São Paulo pode! mas lá eu estou preparada pro frio, então é bom. Aliás, lá a gente sempre está preparado pra qualquer tempo, em qualquer dia.

E aí eu me lembro de ir pro cursinho vestindo jeans, tênis e uma camiseta fresca, um casaco não muito quente mas não muito leve, um prendedor de cabelos e um guarda-chuva (tá, eu não vestia o guarda-chuva, eu o levava na mochila, mas você entendeu) porque eu passava o dia todo muito longe de casa e "na cidade de São Paulo, o amor é imprevisível como você e eu e o céu" (Lá vou eu - Rita Lee/ Luiz Sérgio Carlini).
Quando, hoje, sob os 22°C que já esfriaram minha casinha, eu senti os dedos da mão direita muito gelados (e os pés começando a esfriar muito também) e pensei que eu ainda tinha que lavar louça, eu me lembrei imediatamente da garrafa que minha mãe me trouxe com uns 200mL de conhaque dos bons - e só o cheiro já me aqueceu os pulmões (obviamente, eu precisei de algo mais que o cheiro pra aquecer mãos e pés e nariz). E me decepcionei comigo mesma por não ter comprado leite - porque eu vou sair de estômago vazio de novo amanhã de manhã, mas principalmente porque um choconhaque cairia muito bem agora, mas não tenho como fazer.

***

Às vezes as pessoas só precisam de um tempo pra pensar. Tempo pra decantar os sentimentos, apaziguar as dúvidas, ficar um pouco mais dentro de si - ainda que isso custe ficar um pouco menos do lado de fora. E eu entendo isso, e respeito - mesmo que me dê certa angústia e eu fique me roendo por dentro, preocupada, querendo oferecer ombro e ouvidos e conforto, aliviar o peso, compartilhar. Mas, eu sei, às vezes a gente não precisa ou não quer compartilhar. A gente só quer um tempo pra se reorganizar e poder continuar vivendo.
E, entendendo isso e respeitando profundamente, eu dou um tempo. E tento mostrar, do jeito que eu sei, que eu estou ali se a pessoa precisar ou quiser ombro e ouvidos e conforto, aliviar o peso, compartilhar, e se ela não precisar. Não sei se dá certo. Sei é que fico com um medo danado de dar tempo demais, medo de que a distância segura que eu tomo pra não forçar a barra acabe se tornando uma distância intransponível.

"Medo que dá medo do medo que dá"
(Miedo - Lenine/ Pedro Guerra/ Robney Assis)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Sobre o encanto

Preciso perder essa mania de te procurar pelos lugares com o canto dos olhos, te identificar com minha visão periférica e fingir (pra mim, pra você e pro mundo) que não te vi - e ainda assim não tirar os (cantos dos) olhos de você.
E preciso perder também a mania de admirá-lo tanto (com o canto dos olhos, ou mais que isso) e acabar admirando até coisas que não fazem o menor sentido, como o jeito como a barra da sua calça repousa sobre o seu tênis. Preciso me vigiar pra manter os pés no chão quando seus olhos me sorriem, e pra não derreter com seus gestos e suas expressões e suas palavras mais banais. Exagero meu, claro. De qualquer modo, preciso parar de regredir aos doze anos cada vez que você está por perto.
(Dezembro - 2009)

Das primeiras vezes em que sonhei com você, pensei que precisava parar com isso também. Mesmo no sonho eu me sentia culpada, sabia que aquilo não podia ser, e acordava me recriminando por sorrir, o dia todo, por causa de um sonho bom e que eu nem podia contar pra (quase) ninguém. Não demorou muito pra eu estar convencida de que, ora essa, pelo menos no sonho eu podia estar livre de censura (incluindo a minha) e gozar da sua companhia, e da liberdade que só os sonhos dão. Seja num abraço, num carinho, num beijo, ou numa conversa leve e despretensiosa...
Acho que meus lapsos pré-adolescentes já são bem mais raros, hoje - embora eu ainda sinta uma certa agitação gostosa em certos momentos, e perceba que o encanto não mudou completamente de intensidade e forma. Mas a ponderação e maturidade diurnas afrouxam durante o sono e, ali, eu não tenho a ansiedade e cobrança de me manter impassível perto de você, não preciso me vigiar. Eu posso simplesmente relaxar, rir com leveza, me aproximar o quanto quiser, deixar as coisas seguirem seu curso onírico... E acordar tranquila porque, pelo menos em algum lugar, eu não preciso pensar nas consequências, eu não preciso pensar em nada - só sentir, ser, acontecer.

terça-feira, 30 de março de 2010

Sobre letras de músicas

No cursinho, minha carteira era fácil de reconhecer: no fim do dia, era a que estava escrita de ponta a ponta. Uma ou outra conta, raros desenhos, quem sabe uma citação ou pergunta sem resposta... e muitas, muitas letras de músicas. Ou trechos, pelo menos - com palavras destacadas por razões diversas. Eram músicas que não me saiam da cabeça, que eu acabara de conhecer, que eu não ouvia faz tempo, ou que representavam, naquela hora, parte do que eu pensava e/ou sentia.

Hoje, o máximo que sobrou disso foram os pedaços de música espalhados pelo caderno ("Ué, Alt, você não está copian... ah, tá, é música ¬¬"). E aí deu vontade de resgatar - não exatamente da mesma forma, mas enfim, taí ;)

"You have come here
in pursuit of your deepest urge,
in pursuit of that wish, which till now
has been silent...
Silent...

I have brought you, that our passions
may fuse and merge - in your mind
you've already succumbed to me
dropped all defences
completely succumbed to me
now you are here with me:
no second thoughts, you've decided...
Decided ...


Past the point of no return -
no backward glances:
our games of make-believe are at an end...
Past all thought of "if" or "when" -
no use resisting:
abandon thought,
and let the dream descend ...

What raging fire shall flood the soul
What rich desire unlocks its door
What sweet seduction lies before us?

Past the point of no return
The final threshold
What warm unspoken secrets
Will we learn
beyond the point of no return?

You have brought me
To that moment when words run dry
To that moment when speech disappears
Into silence...
Silence...

I have come here,
Hardly knowing the reason why
In my mind I've already imagined
Our bodies entwining
Defenseless and silent,
Now I am here with you
No second thoughts
I've decided...
Decided...

Past the point of no return
No going back now
Our passion-play has now at last begun.

Past all thought of right or wrong
One final question
How long should we two wait before we're one?

When will the blood begin to race
The sleeping bud burst into bloom
When will these flames at last consume us?

Past the point of no return
The final threshold
The bridge is crossed
So stand and watch it burn
We've passed the point of no return."

(The point of no return - The Phantom of the Opera)

http://www.youtube.com/watch?v=qBYoarsGLXc

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Sobre lugares marcados

Durante minhas incontáveis (li)viagens de ônibus (no trajeto Ribeirão-São Paulo, principalmente), já cansei de ver pessoas sentando em lugares que não compraram. Alguns por engano mesmo, normal. Muitos, pela velha Lei de Gérson ("Gosta de levar vantagem em tudo, certo?") - resultando na cena já usual: o sujeito chega e se senta confortavelmente à janela e, logo mais, o constrangido 'dono' do lugar chega e, sutilmente, indica que há um equívoco, ao que o 'esperto' responde com uma cara cínica e uma troca de lugar. Acho, sinceramente, o constrangimento desnecessário e evitável, com um pouco de educação.
Primeiramente: se você quer sentar perto da janela, compre um assento perto da janela (eles custam o mesmo, fikdik, mas em geral é preciso comprar com um pouco mais de antecedência). Não deu? Fique no lugar que você comprou e, depois que o 'dono' do lugar chegar, peça gentilmente pra trocar e explique a razão (náuseas, um amigo sentado ao lado, sei lá). E, se ele não quiser, paciência - é direito dele.
Quando os cinemas de São Paulo começaram a vender ingressos com lugares marcados, li algo sobre as pessoas desrespeitarem as marcações. A matéria em questão mencionava como o sistema funcionava bem, por exemplo, na Alemanha, onde as pessoas permaneciam em seus lugares mesmo que o cinema estivesse vazio e houvesse, eventualmente, um lugar que parecesse melhor do que o que lhes cabia. Eu não acho que seja necessário ser tão radical, e não sou o tipo de pessoa que advoga a superioridade anglo-europeia sobre a cultura brasileira, não mesmo. Digo mais: os europeus ainda têm muito o que aprender conosco - em matéria de amabilidade e até higiene, entre outras coisas. Mas essa cultura de respeito e disciplina (obtida à custa de educação e mesmo fiscalização efetiva e punição, em certos casos), despida de 'jeitinhos', é algo que ainda falta a muitos de nós, infelizmente.

(Mas não troco isto aqui, com todos os defeitos, por lugar nenhum! prontofalei)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Sobre o sonho

Esta noite eu tive um sonho bom, com acontecimentos felizes - e, estranhamente, acordei com vontade de chorar. Ah, saudade, saudade, saudade...

***

Um monte de gente em um lugar aberto, parecia uma assembleia ou algo assim. Algumas pessoas cantavam uma música meio ao longe, e então eu soube que era um evento do pessoal da PUC - ainda que o lugar me lembrasse o campus da USP em Ribeirão Preto. Sentei-me, em uma das muitíssima cadeiras na grama. Logo, eu vi que em uma das cadeiras atrás de mim estava ele - com aquela blusa esverdeada e sua cara de bom moço. Nos vimos, nos falamos, nos abraçamos, sorrimos. Eu olhava pra ele, e tocava seus ombros pra me certificar de que ele estava mesmo ali. Ah, como eu estava feliz em revê-lo!


Depois de sentarmo-nos novamente pra assistir ao que estava acontecendo naquela assembleia/palestra/whatever, eu lembrei:

- Eu estou te devendo...
- O meu abraço de aniversário!

Eu sorri, e ele estendeu os braços.
Um longo abraço. Eu o abraçava com uma espécie desespero, como que para não perdê-lo nunca mais:

"Muitas, muitas felicidades pra você, sempre.

Eu amo você...
pra sempre!

Eu tive muito medo - eu ainda tenho - de não te ver nunca mais, desse distanciamento não ter mais volta..."


Dito o que eu precisava dizer há muito tempo, eu o abracei mais forte - e, quando acabou, ele me olhou com seu olhar paciente e confortante, como quem diz que eu não precisava me preocupar: ele estava ali como se sempre tivesse estado.

Saímos, encontramos outras pessoas, conversamos mais. E concordamos: algo, sei lá, na conversa tinha mudado - mas é que o tempo passa, a vida de cada um vai mudando, e era natural que as coisas não fossem exatamente como antes. Eu me sentia bem na sua companhia, como sempre, e era isso que importava.

"Eu já estou com o pé nessa estrada
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã...
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Alvoroço em meu coração
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol

Num domingo qualquer, qualquer hora
Ventania em qualquer direção
Sei que nada será como antes, amanhã...
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Sei que nada será como está
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol"

(Nada será como antes - Milton Nascimento/ Ronaldo Bastos)