E tô aqui, ainda sem terminar de me arrumar, e com os olhos inchados e vermelhos - não de sono. É a segunda vez nesta semana - e no mínimo a centésima no último ano, ou nos últimos anos - em que eu prometo pra mim mesma de que não dá mais, e de que a partir de hoje eu vou agir como se me valorizasse, pra ver se eu mesma acredito.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Sobre as mentiras que eu conto (pra mim mesma)
E tô aqui, ainda sem terminar de me arrumar, e com os olhos inchados e vermelhos - não de sono. É a segunda vez nesta semana - e no mínimo a centésima no último ano, ou nos últimos anos - em que eu prometo pra mim mesma de que não dá mais, e de que a partir de hoje eu vou agir como se me valorizasse, pra ver se eu mesma acredito.
sábado, 4 de dezembro de 2010
Sobre a viagem - parte VI (Bratislava, Praga e Karlovy Vary)
Torre da Pólvora, Praga |
A maior fonte de Karlovy Vary |
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Sobre a (des)ilusão das amêndoas
domingo, 7 de novembro de 2010
Sobre a viagem - parte V (Budapeste)
Buda, o Danúbio e Pest ao fundo, com destaque para o parlamento húngaro. |
Torta Esterházy. Atrás, torta Dobos. |
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Random
-Ahm... Não.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
História clínica de uma colisão
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Sobre o que aprendi no feriado
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Sobre a viagem - parte IV (de volta a Viena)
No saguão do hotel, já vimos meia dúzia de brasileiros de verde-e-amarelo, se preparando pra ver o jogo Brasil x Holanda e curtir sua histeria juntos. Sentimos um pouco de vergonha alheia, e nos esforçamos pra atravessar o saguão sem que nossa nacionalidade fosse identificada por nossos compatriotas. Brasileiro tem mania de achar que, só porque vocês são do mesmo país, são obrigatoriamente amigos de infância. Não, querido, eu não sou seu amigo, eu nunca te vi e não vou participar disso e deixar os transeuntes pensando que brasileiro é tudo retardado. É, eu sou antissocial. Mas prometo que vou tentar ser menos preconceituosa.
À noite, fomos ver um concerto no palácio Auersperg, muito bonitos (o concerto e o local). Eu não entendo nada de música, mas eu sei que era lindo de se ouvir, isso me basta. Depois fomos pra um jantar com comida típica mediana e garçonetes a caráter e mal-humoradas. Durante o jantar, dois caras tocavam músicas típicas da Áustria e dos países de origem dos turistas presentes. Tocaram um bocado de boleros mexicanos, alguns tangos argentinos e, quando alguém pediu uma brasileira, eles tocaram Aquarela do Brasil, é claro (que todo mundo conhece mas, no fundo, ninguém sabe cantar). Pediram mais, e eu desconfiei que os caras não soubessem. Ah, não, sempre tem também Garota de Ipanema pra poupar esse constrangimento. Mas não peçam mais que isso. Aliás, sugiro que não peçam nem isso - os boleros e tangos e pasodobles estavam bem mais divertidos.
No ônibus de volta, colocaram um CD com músicas supostamente lat(r)inas, pra agradar os turistas. Aí tinha um bocado de reggaeton, e de repente começou algo brega, em português. Português de Portugal, mas era português, uai. Qual não foi nossa surpresa ao constatar o que diziam os versos da canção:
"Eu gosto de mamar nos peitos da cabritinha
Mamo a hora que eu quero, porque a cabrita é minha"
(A Cabritinha - Quim Barreiros)
No dia seguinte, fomos conhecer os belos jardins do palácio Belvedere e o Palácio Schöbrunn - que tem jardins mais bonitos ainda e foi residência da
O que me decepcionou mesmo em Viena foi o Danúbio. Eu imaginava que ele era lindo como o Sena, só que azul
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Sobre presentes de aniversário
Pensando nisso, venho elaborando uma lista de coisas compráveis das quais eu gosto e/ou preciso. Aí, caso você queira me dar algo e esteja sem ideias, pode se esbaldar ;p
» Pantufas. Mas que sejam escuras, pra não ficarem visível e imensamente sujas.
» Mural com ímãs, pra eu colocar minhas fotos.
» Adesivo de parede do Calvin & Hobbes com esta figura
update: Meus queridos Bê, Bombs, Kéka, Lots e Marcelo me deram o mimo - que eu ainda não colei na parede #fail.
» Jantar/reunião com os amigos. Nada demais, eu só não quero ter que organizar e convidar e tal, tenho preguiça =p
» Bombons Nhá-Benta, da Kopenhagen. Os bombons, e não as Nhá-Bentas!
» Caixas organizadoras com tampas coloridas. E que uma seja azul-turquesa, é claro!
» Sorvete Häagen-Dasz.
» Caixa de ferramentas. Martelo, alicate, chaves de fenda etc... [este, acho que minha tia vai providenciar]
» Cobra, daquelas de porta. Bonitinha! [a Lots já disse que vai dar este]
update: ela, de fato, m'a deu. Uma cobra linda chamada Lots ^^
» Um robe-de-chambre que nem o da Lots: leve, lindo e escuro.
» Chocolate Lindor #nham
» Azul-turquesa. O que você encontrar e achar bonito nessa cor, eu vou achar lindo.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Sobre decisões, livros e o apelido
domingo, 8 de agosto de 2010
Sobre a viagem - parte III (Salzburg e Füssen)
Comemos no Die Weiss, um biergarten charmosinho com boa comida e boa cerveja. Recomendo o Wiener Schnitzel (filé de carne de porco empanado, acompanhado de batatas e geleia de cranberries); a carne de porco assada com chucrute e knödel (pão cozido); e a salsicha com chucrute e batatas ao kümmel - acompanhados de weissbier (a pilsner deles também é ótima, mas seu amargor não faz muito meu tipo). Por lá, eles têm o hábito de trazer água com gás sempre que você pede água - então, se quiser sem gás, é bom especificar.
Carne de porco assada, chucrute e knödel, com weissbier |
No dia seguinte, enfrentamos 6 horas de trem no trajeto Salzburg-München-Füssen pra visitar o castelo Neuschwanstein em esquema bate-e-volta. O castelo - que é lindo e, reza a lenda, inspirou o castelo da Cinderella de Walt Disney - fica sobre um monte pertinho da vila Hohenschwangau, que por sua vez fica a uns 10 minutos de Füssen. Comemos uns sanduíches ótimos e subimos rapidamente, sem deixar de apreciar a vista, pro nosso audio-tour no castelo em português de Portugal (compreensível, interessante, e mesmo assim muito engraçado).
A visita demorou mais do que previmos e nos fez correr como loucos pra não perder o trem de volta - e descobrir, faltando 15 minutos pro nosso trem partir de Füssen, que em Hohenschwangau não há taxis. Felizmente, a moça que trabalhava nas informações turísticas chamou um táxi pra nós em caráter de urgência (que, quando chegou, quase foi ocupado por uma desavisada) e, incrivelmente, conseguimos chegar na estação em tempo. E aí, mais seis horas de viagem de trem, apreciando as paisagens do interior alemão: casas bonitas com floreiras, jardins com coelhos (que ficam em caixas de tela, comendo a grama e engordando), painéis de energia solar, alemães ruidosos em idade escolar e aquele cheiro de esterco que me lembra a Galicia...
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Sobre a viagem - parte II (Viena)
Soneca em Frankfurt. Dá-lhe Lufthansa! |
Pois bem, estava eu me preparando pro meu banho quando ouvi um barulho estranho no corredor.
-Mãe, você ouviu isso?
-Parece que estão falando alguma coisa, vai lá fora ver.
(foto especialmente pra Bombs) |
Claro que a minha reclamação nunca deve chegar a lugar nenhum - mas fica aqui registrada minha indignação. E uma dica: não use as escadas de emergência do hotel InterCity, em Viena. E não aperte nenhum botão, sob nenhuma hipótese.
domingo, 1 de agosto de 2010
Sobre a viagem - parte I
Enquanto a maioria das pessoas ia se ajeitando no saguão pra ver o jogo do Brasil, eu me encostei numa cadeira e, já que não conseguia dormir, resolvi observar o movimento. E qual não foi minha surpresa ao ver, bem na minha frente, um homem com uma camiseta com letras enormes: PINTO. Deve ser estrangeiro, só pode. Mas, calma, ele tá torcendo pro Brasil. Gente, alguém avisa esse moço que isso não é coisa que se escreva numa camiseta. Infelizmente, não consegui tirar uma foto - mas pelo menos deu pra usar todo meu estoque de piadas prontas ("Será que ele deixa eu fotografar o pinto dele?!").
Intervalo: "Tô com fome".
Recomeçado o jogo, eis que eu noto uma figura curiosa em meio aos torcedores. Uma freira baixinha, empolgada com o jogo e japonesa. Alguém já viu uma freira japonesa? Eu nunca tinha visto, fiquei chocada. Mas meu choque se transformou em frustração quando eu a vi embarcando pra Santa Cruz de la Sierra e concluí o óbvio: ela não era japonesa, era boliviana. Uma farsante, assim como a Tapioca (nossa japonega paraguaia).
Já no avião, descobri que o iTunes me sacaneou e só colocou 24 das minhas 1200 músicas no meu iPod. Mas quem liga pra isso quando você tem 18 estações de rádio no avião? É... não, não é exatamente consolador. De qualquer modo, as rádios de música japonesa, chinesa, coreana e indiana renderam umas boas risadas.
Infinitas horas depois, estávamos em Frankfurt, correndo pra não perder a conexão. Gente, que tipo de arquiteto projeta um aeroporto em que, pra ir de um terminal a outro, você tem que descer SEIS lances de escada pra, logo em seguida, ter que subir tudo de novo? É, bem que dizem que alemão gosta de complicar... Mas eles são simpáticos, reconheço - muito mais do que eu esperava. A comissária até me ensinou a pedir suco de maçã em alemão, e escreveu no meu caderninho pra eu não esquecer: apfelsaft. E ensinou 'desculpa', também: entschuldigung (14 letras, sendo 10 consoantes, pronunciadas em décimos de segundo).
Apesar da correria, perdemos a conexão. Pudera: foi a primeira vez na minha vida em que vi um voo partir antes da hora prevista. Isso mesmo: chegamos ao portão de embarque às 14h45 e o voo das 14h50 já tinha decolado. E essa foi só a primeira peça que a Lufthansa nos pregou...
terça-feira, 27 de julho de 2010
Sobre a viagem - Introdução
Ideias pra cá, roteiros pra lá... Disney? Cuba? Canadá? Leste Europeu? China? Eu recebia mensagens da minha mãe, logo cedo ou no meio da aula, me fazendo perguntas difíceis como: "E aí, Disney ou Cuba?". No fim, pela compatibilidade de calendários e tal, decidimos pelo Leste Europeu.
Viagem marcada, ocupando até o último dia das minhas quase-longas férias. Provas feitas, notas que não saíam, aquele medo cão de um deslize me deixar de recuperação (quando suas notas são medianas, o menor deslize as torna insatisfatórias, ou seja: rec).
-Mãe, eu não sei se deu pra tirar 5. Comofas?
-Ah... não dá pra remarcar a passagem, então você vê o que dá pra fazer, faz a rec antes, sei lá. Na pior das hipóteses, você cai de turma, ué.
Oo
Enfim, escapei (com certo louvor, até) das recuperações, e lá fomos nós. E eu, desta vez, munida de um caderno de notas.
Desde que me lembro, minha mãe faz uma espécie de diário de viagem: leva um caderninho onde anota os lugares que vimos e suas respectivas histórias, algumas curiosidades, informações úteis (câmbio, despesas,
Este ano, resolvi aderir à ideia. Caderninho e caneta à mão, fiz minhas notas aparentemente aleatórias sobre lugares, pessoas e comidas, além de ter à mão os endereços dos amigos e um lugar para brincar de forca/stop/jogo-da-velha com a família nas horas de tédio.
Não pretendo ser chata a ponto de narrar detalhes sobre cada um dos minutos que passei viajando. Mas também não quero fazer como o Alvaro que, além de não tirar a foto que me prometeu, acabou não postando nada sobre a viagem que fez.
domingo, 20 de junho de 2010
Sobre o (meu) domingo
Domingo com cara de domingo. Sem Faustão e Fantástico, grazadeus, mas com cara de domingo. Um pouco modorrento, coisas pra fazer e pouca vontade. Louça, livros, bagunça, pijama. Tudo atrasado, mas é domingo, me deixa curtir este ócio vazio e nem tão prazeroso.
Amanhã eu vou pra casa. Mamãe tá com saudade. E eu também tô.
Mas meu fim-de-semana não foi de saudade, como eram os fins-de-semana em Ribeirão, no começo. Hoje é o 14º dia que eu passo aqui, direto, e não me sinto torturada e nem tô em contagem regressiva. Eu passo muito tempo aqui em casa, sem fazer nada, mas isso não me consome e eu não quero ir embora correndo pra São Paulo. Eu tô bem. É a minha casa, agora, e não só meu dormitório.
Teve jogo do Brasil. E eu não vi, porque não tô a fim de ver nada desta Copa. Nada mesmo. Tô num bode absurdo desse clima. E eu não encho o saco de ninguém dizendo que a Copa é uma inutilidade sem fim, que só é mais um pedaço da política do pão-e-circo e blablablá. Porque também tô no maior bode desse discurso pseudo-intelectual. Acho ótimo que as pessoas se divirtam, e também me sinto no direito de não achar isso divertido e preferir ficar na minha casa curtindo meu marasmo.
Me perguntam se eu vou ver o jogo, e eu digo que não. Porque não pretendo, ué. E me olham como se eu fosse uma aberração, como se fosse doença grave e contagiosa. Não, não, acho que contagiosa é essa histeria aí. Gente dirigindo loucamente, barulho demais, fixação.
Claro que nem todo mundo está realmente nessa vibe futebolística: eu tenho (todo mundo tem) muitos amigos que só fazem disso um pretexto pra se reunirem e tal. Mesmo assim, eu prefiro ficar. Eu, meus hambúrgueres, minha Coca-cola. Arranjem outro pretexto, arranjem uma reunião sem pretexto, e eu posso pensar em ir. Pois é, como sou antissocial. Tá, e daí?
Minha mãe tinha razão quando disse que eu não podia ficar muito tempo morando sozinha. Eu já sou bicho-do-mato, e ainda agora tenho uma toca só minha. Mas me deixa aqui, agora. Você sabe que eu não sou sempre assim. Todo mundo tem seus dias assim ou assado, e estes dias eu quero só ficar comigo. Numa boa.
Também não gosto quando vou me reunir com amigos que não vejo há muito tempo e sugerem cinema. Pô, a gente tem só uma tarde em milênios pra ficar juntos e vocês querem passar metade dela em uma sala sem nem poder interagir e conversar? Desculpa, só gosto mesmo de ir no cinema com gente que eu vejo sempre. E mesmo assim, só se eu estiver no clima e/ou achar que o filme vale a pena.
É, eu sou muito antissocial. Mas não fico fingindo que tenho coisas pra fazer, que estou com dor de cabeça. Eu digo "Não, não tô a fim". E não sei se é bom ou ruim - acho que isso me faz menos hipócrita tanto quanto me faz mais antissocial.
Minha mãe tinha razão. E talvez ele também tenha razão (desde os tempos em que eu nem morava sozinha): eu sou uma velha rabugenta. Mas você sabe que eu não sou sempre assim, então me deixa aqui. Comigo. Com minha Coca-cola. Numa boa.
segunda-feira, 14 de junho de 2010
(drama) sobre o ponto final
Aulas, colegas, sorrisos sociais. Chegou a hora do almoço e ela vagou por entre os prédios e por entre as pessoas, desorientada. Não sabia onde ir e com quem, não sabia o que fazer com o próprio tempo. Almoçar, talvez? Parecia uma ideia razoável, mas só de pensar nela seu estômago se revirou como não fazia há muito tempo - como se o fato de sua mente estar digerindo algo já exigisse esforço demais.
O dia foi passando, lentamente. E a cada minuto ela se pegava pensando nele, querendo contar dos acontecimentos do seu dia, esperando que ele fizesse contato ou, magicamente, aparecesse no fim do corredor. E a cada minuto, a Razão dentro dela dizia: "Não, você não deve mais pensar nisso". Ah, que ódio daquela Razão censurando-a, como se fosse fácil não pensar, não querer, não esperar!
domingo, 13 de junho de 2010
Sobre cultura inútil
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Sobre a beleza
Mais do que a simples beleza - que ela tinha de sobra e parecia nem se dar conta - ela tinha, não sei, algo de muito encantador. E eu quis até dizer pra ela que a achava muito bonita (não disse, porque pensei que ela ia achar muito estranho e/ou inconveniente). Mas, mais que isso, eu quis ser como ela. Porque, assim, eu aturdiria àquele vinha me atordoando. Eu achava que, com aquelas feições, eu lhe seria irresistível e o deixaria deslumbrado do mesmo modo como eu o vira deslumbrar-se com outras. Tolices, tolices...
Hoje, ainda, eu às vezes acordo com vontade de ser estonteantemente bela. Dessas belezas de comercial de absorvente, que andam na rua com vestidos esvoaçantes e dão torcicolo em todos os homens pelos quais passam. E penso que, se cuidasse um pouco da minha aparência, eu até poderia atrair alguns olhares. Mas isso não basta - nesse dias eu queria era parar o trânsito mesmo, no maior estilo sou-uma-diva.
Outras vezes, eu me pego desejando ter outro tipo de beleza (que nem sei se pode se chamar assim): aquela aura encantadora que certas pessoas têm e fazem a gente se apaixonar por elas no primeiro sorriso. Uma espécie de beleza doce que parece ter nascido com elas e que eu sei que nunca vou ter, apesar do meu esforço diário. Uma beleza que enternece, e faz sorrir e pensar em como é bom estar presenciando aquilo.
E, por vezes, ainda conservo um pouco da tolice de tantos anos atrás, e perco milissegundos acreditando que talvez a aparência seja o problema e que, se eu acordasse milagrosamente diferente, talvez ele me notasse como eu gostaria. Tolices, ah, tolices...
"Passa
Como que nua
Calma
Finge que voa
Brasa
Chama na areia
Bela
Como eu queria
Magra, leve, calma
Toda ela bela
Tudo nela chama "
(Magra - Lenine/ Ivan Santos)
terça-feira, 6 de abril de 2010
Sobre o frio, e mais
- Mas você não é de São Paulo? Devia estar acostumada, em São Paulo faz frio...
- Faz,
E aí eu me lembro de ir pro cursinho vestindo jeans, tênis e uma camiseta fresca, um casaco não muito quente mas não muito leve, um prendedor de cabelos e um guarda-chuva (tá, eu não vestia o guarda-chuva, eu o levava na mochila, mas você entendeu) porque eu passava o dia todo muito longe de casa e "na cidade de São Paulo, o amor é imprevisível como você e eu e o céu" (Lá vou eu - Rita Lee/ Luiz Sérgio Carlini).
Quando, hoje, sob os 22°C que já esfriaram minha casinha, eu senti os dedos da mão direita muito gelados (e os pés começando a esfriar muito também) e pensei que eu ainda tinha que lavar louça, eu me lembrei imediatamente da garrafa que minha mãe me trouxe com uns 200mL de conhaque dos bons - e só o cheiro já me aqueceu os pulmões (obviamente, eu precisei de algo mais que o cheiro pra aquecer mãos e pés e nariz). E me decepcionei comigo mesma por não ter comprado leite - porque eu vou sair de estômago vazio de novo amanhã de manhã, mas principalmente porque um choconhaque cairia muito bem agora, mas não tenho como fazer.
E, entendendo isso e respeitando profundamente, eu dou um tempo. E tento mostrar, do jeito que eu sei, que eu estou ali se a pessoa precisar ou quiser ombro e ouvidos e conforto, aliviar o peso, compartilhar, e se ela não precisar. Não sei se dá certo. Sei é que fico com um medo danado de dar tempo demais, medo de que a distância segura que eu tomo pra não forçar a barra acabe se tornando uma distância intransponível.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Sobre o encanto
E preciso perder também a mania de admirá-lo tanto (com o canto dos olhos, ou mais que isso) e acabar admirando até coisas que não fazem o menor sentido, como o jeito como a barra da sua calça repousa sobre o seu tênis. Preciso me vigiar pra manter os pés no chão quando seus olhos me sorriem, e pra não derreter com seus gestos e suas expressões e suas palavras mais banais. Exagero meu, claro. De qualquer modo, preciso parar de regredir aos doze anos cada vez que você está por perto.
(Dezembro - 2009)
Das primeiras vezes em que sonhei com você, pensei que precisava parar com isso também. Mesmo no sonho eu me sentia culpada, sabia que aquilo não podia ser, e acordava me recriminando por sorrir, o dia todo, por causa de um sonho bom e que eu nem podia contar pra (quase) ninguém. Não demorou muito pra eu estar convencida de que, ora essa, pelo menos no sonho eu podia estar livre de censura (incluindo a minha) e gozar da sua companhia, e da liberdade que só os sonhos dão. Seja num abraço, num carinho, num beijo, ou numa conversa leve e despretensiosa...
Acho que meus lapsos pré-adolescentes já são bem mais raros, hoje - embora eu ainda sinta uma certa agitação gostosa em certos momentos, e perceba que o encanto não mudou completamente de intensidade e forma. Mas a ponderação e maturidade diurnas afrouxam durante o sono e, ali, eu não tenho a ansiedade e cobrança de me manter impassível perto de você, não preciso me vigiar. Eu posso simplesmente relaxar, rir com leveza, me aproximar o quanto quiser, deixar as coisas seguirem seu curso onírico... E acordar tranquila porque, pelo menos em algum lugar, eu não preciso pensar nas consequências, eu não preciso pensar em nada - só sentir, ser, acontecer.
terça-feira, 30 de março de 2010
Sobre letras de músicas
No cursinho, minha carteira era fácil de reconhecer: no fim do dia, era a que estava escrita de ponta a ponta. Uma ou outra conta, raros desenhos, quem sabe uma citação ou pergunta sem resposta... e muitas, muitas letras de músicas. Ou trechos, pelo menos - com palavras destacadas por razões diversas. Eram músicas que não me saiam da cabeça, que eu acabara de conhecer, que eu não ouvia faz tempo, ou que representavam, naquela hora, parte do que eu pensava e/ou sentia.
Hoje, o máximo que sobrou disso foram os pedaços de música espalhados pelo caderno ("Ué, Alt, você não está copian... ah, tá, é música ¬¬"). E aí deu vontade de resgatar - não exatamente da mesma forma, mas enfim, taí ;)
"You have come here
in pursuit of your deepest urge,
in pursuit of that wish, which till now
has been silent...
Silent...
I have brought you, that our passions
may fuse and merge - in your mind
you've already succumbed to me
dropped all defences
completely succumbed to me
now you are here with me:
no second thoughts, you've decided...
Decided ...
Past the point of no return -
no backward glances:
our games of make-believe are at an end...
Past all thought of "if" or "when" -
no use resisting:
abandon thought,
and let the dream descend ...
What raging fire shall flood the soul
What rich desire unlocks its door
What sweet seduction lies before us?
Past the point of no return
The final threshold
What warm unspoken secrets
Will we learn
beyond the point of no return?
You have brought me
To that moment when words run dry
To that moment when speech disappears
Into silence...
Silence...
I have come here,
Hardly knowing the reason why
In my mind I've already imagined
Our bodies entwining
Defenseless and silent,
Now I am here with you
No second thoughts
I've decided...
Decided...
Past the point of no return
No going back now
Our passion-play has now at last begun.
Past all thought of right or wrong
One final question
How long should we two wait before we're one?
When will the blood begin to race
The sleeping bud burst into bloom
When will these flames at last consume us?
The final threshold
The bridge is crossed
So stand and watch it burn
We've passed the point of no return."
(The point of no return - The Phantom of the Opera)
http://www.youtube.com/watch?v=qBYoarsGLXc
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Sobre lugares marcados
Primeiramente: se você quer sentar perto da janela, compre um assento perto da janela (eles custam o mesmo, fikdik, mas em geral é preciso comprar com um pouco mais de antecedência). Não deu? Fique no lugar que você comprou e, depois que o 'dono' do lugar chegar, peça gentilmente pra trocar e explique a razão (náuseas, um amigo sentado ao lado, sei lá). E, se ele não quiser, paciência - é direito dele.
Quando os cinemas de São Paulo começaram a vender ingressos com lugares marcados, li algo sobre as pessoas desrespeitarem as marcações. A matéria em questão mencionava como o sistema funcionava bem, por exemplo, na Alemanha, onde as pessoas permaneciam em seus lugares mesmo que o cinema estivesse vazio e houvesse, eventualmente, um lugar que parecesse melhor do que o que lhes cabia. Eu não acho que seja necessário ser tão radical, e não sou o tipo de pessoa que advoga a superioridade anglo-europeia sobre a cultura brasileira, não mesmo. Digo mais: os europeus ainda têm muito o que aprender conosco - em matéria de amabilidade e até higiene, entre outras coisas. Mas essa cultura de respeito e disciplina (obtida à custa de educação e mesmo fiscalização efetiva e punição, em certos casos), despida de 'jeitinhos', é algo que ainda falta a muitos de nós, infelizmente.
(Mas não troco isto aqui, com todos os defeitos, por lugar nenhum! prontofalei)
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Sobre o sonho
***
Um monte de gente em um lugar aberto, parecia uma assembleia ou algo assim. Algumas pessoas cantavam uma música meio ao longe, e então eu soube que era um evento do pessoal da PUC - ainda que o lugar me lembrasse o campus da USP em Ribeirão Preto. Sentei-me, em uma das muitíssima cadeiras na grama. Logo, eu vi que em uma das cadeiras atrás de mim estava ele - com aquela blusa esverdeada e sua cara de bom moço. Nos vimos, nos falamos, nos abraçamos, sorrimos. Eu olhava pra ele, e tocava seus ombros pra me certificar de que ele estava mesmo ali. Ah, como eu estava feliz em revê-lo!
Depois de sentarmo-nos novamente pra assistir ao que estava acontecendo naquela assembleia/palestra/whatever, eu lembrei:
- Eu estou te devendo...
- O meu abraço de aniversário!
Eu sorri, e ele estendeu os braços.
Um longo abraço. Eu o abraçava com uma espécie desespero, como que para não perdê-lo nunca mais:
"Muitas, muitas felicidades pra você, sempre.
Eu amo você...
pra sempre!
Eu tive muito medo - eu ainda tenho - de não te ver nunca mais, desse distanciamento não ter mais volta..."
Dito o que eu precisava dizer há muito tempo, eu o abracei mais forte - e, quando acabou, ele me olhou com seu olhar paciente e confortante, como quem diz que eu não precisava me preocupar: ele estava ali como se sempre tivesse estado.
Saímos, encontramos outras pessoas, conversamos mais. E concordamos: algo, sei lá, na conversa tinha mudado - mas é que o tempo passa, a vida de cada um vai mudando, e era natural que as coisas não fossem exatamente como antes. Eu me sentia bem na sua companhia, como sempre, e era isso que importava.
"Eu já estou com o pé nessa estrada
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã...
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Alvoroço em meu coração
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Num domingo qualquer, qualquer hora
Ventania em qualquer direção
Sei que nada será como antes, amanhã...
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Sei que nada será como está
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol"
(Nada será como antes - Milton Nascimento/ Ronaldo Bastos)