terça-feira, 6 de abril de 2010

Sobre o frio, e mais

Eu sei, 22°C não é exatamente friiio. Mas sentir os dedos endurecerem de frio em Ribeirão Preto em princípios de abril não faz o menor sentido, garanto. E eu olhei o céu e senti o ar frio e úmido e pensei quase com nostalgia: "Que dia mais paulistano..."

- Mas você não é de São Paulo? Devia estar acostumada, em São Paulo faz frio...
- Faz, mas em São Paulo pode! mas lá eu estou preparada pro frio, então é bom. Aliás, lá a gente sempre está preparado pra qualquer tempo, em qualquer dia.

E aí eu me lembro de ir pro cursinho vestindo jeans, tênis e uma camiseta fresca, um casaco não muito quente mas não muito leve, um prendedor de cabelos e um guarda-chuva (tá, eu não vestia o guarda-chuva, eu o levava na mochila, mas você entendeu) porque eu passava o dia todo muito longe de casa e "na cidade de São Paulo, o amor é imprevisível como você e eu e o céu" (Lá vou eu - Rita Lee/ Luiz Sérgio Carlini).
Quando, hoje, sob os 22°C que já esfriaram minha casinha, eu senti os dedos da mão direita muito gelados (e os pés começando a esfriar muito também) e pensei que eu ainda tinha que lavar louça, eu me lembrei imediatamente da garrafa que minha mãe me trouxe com uns 200mL de conhaque dos bons - e só o cheiro já me aqueceu os pulmões (obviamente, eu precisei de algo mais que o cheiro pra aquecer mãos e pés e nariz). E me decepcionei comigo mesma por não ter comprado leite - porque eu vou sair de estômago vazio de novo amanhã de manhã, mas principalmente porque um choconhaque cairia muito bem agora, mas não tenho como fazer.

***

Às vezes as pessoas só precisam de um tempo pra pensar. Tempo pra decantar os sentimentos, apaziguar as dúvidas, ficar um pouco mais dentro de si - ainda que isso custe ficar um pouco menos do lado de fora. E eu entendo isso, e respeito - mesmo que me dê certa angústia e eu fique me roendo por dentro, preocupada, querendo oferecer ombro e ouvidos e conforto, aliviar o peso, compartilhar. Mas, eu sei, às vezes a gente não precisa ou não quer compartilhar. A gente só quer um tempo pra se reorganizar e poder continuar vivendo.
E, entendendo isso e respeitando profundamente, eu dou um tempo. E tento mostrar, do jeito que eu sei, que eu estou ali se a pessoa precisar ou quiser ombro e ouvidos e conforto, aliviar o peso, compartilhar, e se ela não precisar. Não sei se dá certo. Sei é que fico com um medo danado de dar tempo demais, medo de que a distância segura que eu tomo pra não forçar a barra acabe se tornando uma distância intransponível.

"Medo que dá medo do medo que dá"
(Miedo - Lenine/ Pedro Guerra/ Robney Assis)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Sobre o encanto

Preciso perder essa mania de te procurar pelos lugares com o canto dos olhos, te identificar com minha visão periférica e fingir (pra mim, pra você e pro mundo) que não te vi - e ainda assim não tirar os (cantos dos) olhos de você.
E preciso perder também a mania de admirá-lo tanto (com o canto dos olhos, ou mais que isso) e acabar admirando até coisas que não fazem o menor sentido, como o jeito como a barra da sua calça repousa sobre o seu tênis. Preciso me vigiar pra manter os pés no chão quando seus olhos me sorriem, e pra não derreter com seus gestos e suas expressões e suas palavras mais banais. Exagero meu, claro. De qualquer modo, preciso parar de regredir aos doze anos cada vez que você está por perto.
(Dezembro - 2009)

Das primeiras vezes em que sonhei com você, pensei que precisava parar com isso também. Mesmo no sonho eu me sentia culpada, sabia que aquilo não podia ser, e acordava me recriminando por sorrir, o dia todo, por causa de um sonho bom e que eu nem podia contar pra (quase) ninguém. Não demorou muito pra eu estar convencida de que, ora essa, pelo menos no sonho eu podia estar livre de censura (incluindo a minha) e gozar da sua companhia, e da liberdade que só os sonhos dão. Seja num abraço, num carinho, num beijo, ou numa conversa leve e despretensiosa...
Acho que meus lapsos pré-adolescentes já são bem mais raros, hoje - embora eu ainda sinta uma certa agitação gostosa em certos momentos, e perceba que o encanto não mudou completamente de intensidade e forma. Mas a ponderação e maturidade diurnas afrouxam durante o sono e, ali, eu não tenho a ansiedade e cobrança de me manter impassível perto de você, não preciso me vigiar. Eu posso simplesmente relaxar, rir com leveza, me aproximar o quanto quiser, deixar as coisas seguirem seu curso onírico... E acordar tranquila porque, pelo menos em algum lugar, eu não preciso pensar nas consequências, eu não preciso pensar em nada - só sentir, ser, acontecer.