segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sobre os medos de sempre

Dorothy encontra o Leão Covarde


Esquisito este medo que eu tenho, essa insegurança. Uma insegurança que parece fazer parte de mim tanto quanto meus pés ou minha língua. Mesmo que não haja razões, mesmo que não haja sentido. É só ficar um pouco quietinha e prestar atenção, e lá está. Como um sopro cardíaco.

E algumas vezes as coisas vão indo bem, e eu fico tão bem na maior parte do tempo que até acho que a insegurança acabou. Mas é só parar um pouco e vem, lá no fundo, uma pontinha de medo, um quê de angústia que eu não sei explicar ou mesmo entender. É ela, me dizendo baixinho pra desconfiar da bonança.
E minha auto-estima, que nem sempre escolhe bem suas companhias, costuma ser vista de mãos dadas com ela, cambaleando, acreditando em seus conselhos...

[provavelmente a insegurança não vai sumir sozinha só porque eu a ignoro na maior parte do tempo. Talvez enfrentá-la seja o jeito de enfraquecê-la - até acordar um dia e ver que ela enfraqueceu tanto a ponto de não estar mais lá, ou de sua presença não me assustar mais (que no es lo mismo, pero es igual)]


***


Chegar perto do ponto onde as coisas começa(ra)m a desandar, e sentir de leve aquela palpitação que me dá vontade de dar um passo atrás - ou muitos, até sumir de novo dentro do meu próprio mundo. Aquela sensação de que as coisas estão indo rápido demais, mesmo quando não estão... É que eu nunca mergulhei tão fundo, e tenho medo de ficar sem ar.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sobre a Virada Cultural

Logo que a proposta de ir pra Virada Cultural começou a tomar corpo, me deu uma preguiçazinha de leve. Eu tinha passado os olhos pela programação e visto muitas coisas que me interessavam, mas pensar que outros milhões de pessoas também compartilhariam do meu interesse e, pior, do espaço (nas ruas e no metrô e elsewhere) me deu uma certa fadiga. Aglomerações nunca fizeram minha cabeça, e a mera ideia de ficar até de madrugada no centro no meio do tumulto só pra ver um show me convencia rapidamente de que eu nem queria tanto ver esse show mesmo...


Mas fui. Organizamos um esboço de roteiro com as coisas que queríamos ver, e lá fomos nós. Começamos com Rita Lee, louca e divertida, tocando algumas de suas melhores músicas na Praça Júlio Prestes. Tinha bastante gente, como previsto, mas o espaço era amplo e conseguimos ficar em um lugar em que dava até pra ver alguma coisa vez ou outra, e sem empurra-empurra. E, cá entre nós, ter como cenário a estação Julio Prestes (enquanto o sol se punha e, depois, iluminada) foi um presente.


A partir daí, seguir nosso roteiro revelou-se um tanto frustrante. No Pateo do Collegio não encontramos o que esperávamos, no Banespa tampouco e, quando chegamos na São João pra ver Beatles Forever, o show de "A hard day's night" tinha acabado de acabar, e só o que conseguimos foi ser empurradas num tumulto absurdo e ainda no contra-fluxo. Cansadas como estávamos, tinha tudo pra chegarmos em casa meio mal-humoradas e reclamando das frustrações, da multidão, de qualquer coisa. Mas, depois de caminhar mais de uma hora pelo centro todo iluminado, andar pelo meio daquelas ruas com relativa tranquilidade e encontrar boas surpresas pelo caminho, eu só podia estar satisfeita. Fui pra casa relativamente cedo (às onze e meia já estava de volta à periferia), disposta a voltar no dia seguinte.


Depois de ser muito enrolada pelo meu pai (que, ao saber que eu tenho algum compromisso, faz questão absoluta de me carregar por aí enquanto ele faz o máximo de coisas da maneira mais lenta possível), voltei pro Anhangabaú. E aí, mais programações do roteiro frustradas e em seguida compensadas por eventos bacanas inesperados - como o Homem-Banda na frente do Municipal e a Orquestra HeartBreakers no coreto do Parque da Luz. O encerramento com a OSESP e o balé da São Paulo cia. de dança dispensa comentários.


No fim das contas, não vi muita coisa que pretendia ver, mas a Virada me surpreendeu de maneira muito positiva. Fazia tempo que eu não passeava pelo centro de São Paulo - e fazer isso sossegada e com várias coisas legais pelo caminho (como a marcha dos personagens de Star Wars encabeçada por Darth Vader e Darth Maul lado a lado, de meter medo, e troca de conhecimentos de quiromancia entre Cabelo e uma moradora de rua) foi o que realmente fez valer a pena. Um sábado à noite vendo a iluminação dos arredores da Sé, uma tarde de domingo apreciando boa música, a beleza do parque da Luz e a boa companhia... o que mais eu poderia querer?