segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Sobre as mentiras que eu conto (pra mim mesma)

Fui estudar e acabei dormindo. Acordei depois de meia hora, com tempo suficiente pra tomar banho, me livrar daquela cara inchada de sono e me arrumar tranquilamente pra jantar.

E tô aqui, ainda sem terminar de me arrumar, e com os olhos inchados e vermelhos - não de sono. É a segunda vez nesta semana - e no mínimo a centésima no último ano, ou nos últimos anos - em que eu prometo pra mim mesma de que não dá mais, e de que a partir de hoje eu vou agir como se me valorizasse, pra ver se eu mesma acredito.
Antes eu fazia isso como uma promessa de ano-novo: nunca mais. Desta vez, me sinto como um alcoólatra que vê a bebida na sua frente e repete o mantra pra si mesmo: "Um dia de cada vez...". E cada minuto é um desafio, tentar não torturar a mim mesma depois de ter me habituado a isso durante tanto tempo, achando que isso é que era amar. Mas amar a quem, ao quê, se eu não dou conta nem de amar a mim mesma?
E então eu recaio, e vou de novo procurar - ou criar - motivos que provam pra mim mesma o quanto eu não tenho valido nada. Não é difícil, a história toda depõe contra mim, e muitas das minhas atitudes ainda depõem.

Mas a consciência meio estrangulada me sussurra lá do fundo: "Você prometeu... era só por hoje". Não tá fácil, não tá. Mas eu vou tentar de verdade desta vez. Porque eu aprendi que cada vez que eu mexo na ferida, eu não me contento com a dor surda que isso dá, eu não paro até sangrar. E isso não pode, meu deus, por que uma pessoa faz isso consigo mesma? Que motivos ela tem? Nenhum, diz alguém mais racional aqui dentro (ou lá fora). Nenhum.

Como eu pude deixar chegar até aqui? E misturar tanto as coisas, e deixar tudo nesta bagunça? Eu não quero desfazer os laços, mas eu não posso mais deixar este emaranhado todo me prender assim.

Eu quero poder ir dormir amanhã e pensar: "Eu consegui". E depois, e depois, e depois. Mesmo que me custe a imensa dificuldade de mudar certos hábitos, mesmo que me custe certo luto. Porque essa dor eu acredito que passa. Mas esta aqui está durando demais, e sem nunca diminuir de verdade, eu preciso fazer algo contra isso, eu posso. E eu vou começar por hoje. Um dia de cada vez.

"Eu só queria poder olhar no espelho e ver alguém que valesse a pena. Talvez esse seja o meu mal: não vejo nada"

sábado, 4 de dezembro de 2010

Sobre a viagem - parte VI (Bratislava, Praga e Karlovy Vary)

As fotos da viagem finalmente saíram, em sua versão impressa. Antes do fim do ano e da próxima viagem, como prometido - aos 45' do segundo tempo. Demora chata, mas justificável, já que ninguém tinha muito tempo e paciência pra coletar as fotos de todas as câmeras, organizar e selecionar as que seriam impressas.

Me impressionei com a quantidade de fotos que temos de Bratislava - porque a cidade não é grande coisa,  parece Kaminda Mundi (sabe, no Hopi Hari?!). Pra se ter ideia, o que me lembro de mais legal lá foi um cartaz colorido, escrito 'BratisLove'. A parada na capital eslovaca foi para o almoço, e meu primo resolveu  pedir um prato de gnocchi al sugo. O prato veio, cheio de molho até a borda, meu primo começou a caçar a massa e, cadê? Não tinha. Chamamos a garçonete, que respondeu que aquilo era uma sopa de tomate, não era isso que tínhamos pedido? Ai, essas falhas de comunicação...

No finzinho de tarde chegamos à tão esperada Praga, e já saímos para fazer uma caminhada de umas duas horas pelas ruas do centro antigo da cidade - um horário bem legal, porque não estava quente demais e pudemos ver o pôr-do-sol sobre o rio Moldava (Vltava, em checo), e curtir o clima tétrico que essa arquitetura confere, durante a noite. 

Torre da Pólvora, Praga
A cidade ainda tem a arquitetura antiga toda preservada, o que dá um ar diferente à visita. Pra dar ainda mais clima, de hora em hora, antes do relógio astronômico iniciar sua performance (uma performance mecânica, com figuras em movimento), aparece um cara vestido de arauto medieval, tocando um trompete aos quatro cantos. Muito simpático, por sinal, acenando desde lá de cima, sorridente, quase se jogando da torre da prefeitura.

Além da arquitetura, fomos conhecer também os cristais da Boêmia, famosos, muito bonitos e caros. Foi lá que compramos umas lixas, de vidro, que são boas e lindas, mas dão uma afliçãozinha na hora de lixar as unhas. Pro almoço, dividi com minha mãe um pato assado delicioso, acompanhado de repolhos e pão cozido, e de pivo (a cerveja checa, famosíssima mundialmente), é claro.

Praga é também berço da técnica de teatro negro, então fomos assistir a uma peça - que era sem falas e tinha um enredo bastante bizarro, com alguns elementos de 'Alice', influências culturais locais, circenses etc. A bizarrice beirando o surreal do roteiro faz ficar um pouco cansativo, mas mesmo assim é encantador.

No terceiro dia, saímos da cidade, passamos por campos e mais campos com plantações de lúpulo checo e fomos até o balneário de Karlovy Vary - que é uma dessas cidades cheias de mananciais com águas termais (que até eu acho coisa de velho). Um lugar pequeno e muito bonitinho, no meio das montanhas, com fontes que jorram água sulfurosa a até 60°C - não muito gostosa, por sinal. Estava rolando um festival internacional de cinema, e por um ou dois dias não pegamos o Jude Law por ali. Uma pena.
A maior fonte de Karlovy Vary

Lá eles vendem umas bolachas redondas, de massa parecida com wafer só que com duas camadas apenas, bem gostosas - e iguais às que se vende em Montecatini, um balneário parecido no norte da Itália. Só que os italianos foram mais espertos, e colocaram sobre as bolachas o divino sorvete italiano, e só por isso dão de dez a zero nas bolachas checas. Outra coisa legal que tem em Karlovy Vary são rosas mineralizadas: as rosas são mergulhadas nas águas termais, e os metais das águas precipitam sobre a flor, deixando-a 'petrificada'.

Da República Tcheca, seguimos de avião até a Romênia, em um voo da Czech Airlines que tinha uma aeromoça padrão-Iberia, dessas delicadas. Pra se ter uma ideia, ela gritou com um passageiro porque ele não estava conseguindo colocar a mala no compartimento - e foi tão grossa que o cara não teve coragem de fazer nada além de dizer "Sorry, lady", mesmo sem ter feito nada de errado.

Devo dizer: o que salva nessas companhias aéreas europeias é, no máximo, o lanchinho - que, às vezes, vem com um Milka ou coisa assim. No mais, as acomodações são péssimas e o atendimento, geralmente, é desorganizado e pouco preocupado com a satisfação do cliente. Mas se eu começo a contar histórias aeroportuárias desse tipo aqui, fico até amanhã...