sábado, 29 de novembro de 2008
Sobre antigas criações
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Uma cadeira de balanço. Um senhor inclinado para o toca-discos, imerso em lembranças da juventude. Raios de sol penetrando a escura sala e o frio coração de um solitário. Alguns amigos, um reencontro e o brilho dos olhos. O chiado das folhas das árvores chacoalhadas pelo vento. Um velho bicho de pelúcia sobre a cama, com o ar de quem já compartilhou dos sofrimentos e alegrias da jovem apaixonada. Um cãozinho entretido com a borboleta azul. O aroma familiar da comida da mãe invadindo os pulmões e o coração dos filhos que retornam à casa. Um botão de rosa. O silêncio interrompido apenas pelo ruído do lápis no papel e pelo palpitar do coração do jovem escritor. A espera ansiosa pelo amanhã. O desespero de uma mulher traída. O toque suave de mãos femininas acariciando o homem amado. Um gato estirado ao sol num dia de inverno. O tempo, implacável, voando veloz e incessantemente. A descoberta da cura, um sorriso de alívio. Um grito na noite. Os olhos de uma idosa, que revelam mágoas, alegrias, força e a convicção de que sempre há mais a ser aprendido. Libélulas brincando sobre um lago sereno. Uma criança com medo. Uma prece. Crianças atentas aos sábios ensinamentos do professor, que leciona com amor. Um bebê adormecido. Gargalhadas na cozinha de uma família feliz. A viagem dos sonhos. Lágrimas contidas, pela ausência do ente querido. O milagre da vida. A luz avermelhada do sol poente sobre um casal comum. Anjos colorindo a manhã. O cuidado da mãe com seus filhotes. Cortinas ao vento. Uma bolha de sabão.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Sobre a separação
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente"
(Soneto de Separação - Vinícius de Moraes)
"Eu tenho muito medo de as nossas vidas ficarem tão diferentes que a gente não tenha mais o que conversar. Medo de que a gente pare de se procurar. Medo de um dia me dar conta de que a gente não tá mais junto"
(em conversa com a Vones)
Num post antigo,eu comentei um medo que eu tinha de esquecer das pessoas que eu amo. Hoje eu estou certa de que não vou esquecê-las, mas me deparo com uma nova agonia: o medo da separação. Não da separação abrupta, que deixa abertas feridas ardentes de tanto sentimento. Da separação morna, que vai esfriando, esfriando, e daí um dia, de repente, você nota que ela já aconteceu.
Não sei se a distância, ou o tempo, ou a vida fazem as coisas serem assim. Não sei por que essa separação acontece com algumas pessoas e não com outras. Só sei que não devia ser assim.
É triste perceber que amores e amizades podem estar se tornando meras lembranças. É triste pensar que relações aparentemente sólidas se desmancham e escorrem por entre os dedos. É triste notar que os rostos do presente podem virar rostos do passado.
Eu luto contra isso, eu tento lutar. Mas às vezes parece que sou tão fraca frente à força dos acontecimentos...
sábado, 22 de novembro de 2008
Sobre os besouros/ETs
os bichinhos voadores marrons crocantes voltaram, e suspeito que não sejam mesmo ETs. Tampouco cupins, Dani! São besourinhos mesmo, mais ou menos como este:
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Sobre injustiça
Eu sei que o mundo e as pessoas estão cheios de problemas, mas cada vez que me dou conta de que eles estão muito próximos de mim e, ao mesmo tempo, abissalmente distantes, eu levo um choque. Repensei todos os milhões de injustiças que acontecem todos os dias há bem pouco tempo, por causa de um acontecimento aparentemente banal que me cruzou o caminho.
Explico-me: na quinta-feira, enquanto esperava pra embarcar no ônibus pra São Paulo, o rapaz à minha frente apresentou a passagem ao motorista, que disse, apontando pra passagem: "O senhor tem que preencher aqui antes de entrar". O rapaz foi um pouco para o lado, saindo da fila, mas continuou olhando pro motorista com um ar meio vago, sem saber direito o que fazer. Ele, claramente, não sabia escrever. Logo o próprio motorista foi ajudá-lo, e depois as pessoas continuaram embarcando normalmente - a maioria sem nem saber o que aconteceu naquele breve instante. Eu sentei em meu lugar, ajeitei minhas coisas e tal... mas a expressão do homem não me saía da cabeça, junto com um bocado de questionamentos e inconformidade. Perceber que existem milhões de pessoas que passam por mim todos os dias que não conseguem nem escrever o próprio nome foi assustador, por mais que eu já soubesse disso.
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Sobre a visita extraterreste
-Mas como é que você sabe que não viu? Você não sabe em que forma eles vêm! Vai ver estava na nossa cara o tempo todo!
-É, pode ser...
-Ow... e se forem os bichinhos crocantes?
-Que bichinhos crocantes?
-Aqueles que eu disse que apareceram em bando na noite de segunda, lembra?! Não fui só eu que vi... e, parando pra pensar, esta noite eles não apareceram...
-Sério?
-Uhum... então deu três dias certinho. Bem que eu achei aqueles bichos estranhos!
-Mas, os ETs iriam vir em forma de inseto?! Que burros!
-Burros por quê? Eu diria que é muito bem pensado: é uma manifestação que todo mundo nota - um monte de insetos diferentes aparecendo de repente - mas não dá tanto medo nas pessoas como as aparições "tradicionais"...
-Até aí sim... mas é burrice vir como inseto porque aí eles morrem aos montes!
-Bom, isso é mesmo. Eu mesma matei dois ontem com o maior prazer.
-Então... os ETs não iam vir em forma de inseto pra a gente matá-los.
-Ué, e como você sabe? De repente a aparição é só pra eles se fazerem notar... vai ver a dimensão física não importa tanto pra eles, porque eles já estão mais evoluídos.
-Pensando assim, até que pode ser...
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O mais divertido em ter idéias malucas é achar quem as compreenda! ;P
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Sobre (e contra) a Reforma Ortográfica
Não, não basta. Lá vêm eles de novo, querendo mudar as regras de escrever o idioma. "Minha pátria é a língua portuguesa", escreveu Fernando Pessoa pela pena de um de seus heterônimos, Bernardo Soares, autor do Livro do Desassossego. Desassossegados estamos. Querem mexer na pátria. Quando mexem no modo de escrever o idioma, põem a mão num espaço íntimo e sagrado como a terra de onde se vem, o clima a que se acostumou, o pão que se come.
Aprovou-se recentemente no Senado mais uma reforma ortográfica da Língua Portuguesa. É a terceira nos últimos 52 anos, depois das de 1943 e 1971- muita reforma, para pouco tempo. Uma pessoa hoje com 60 anos aprendeu a escrever "idéa", depois, em 1943, mudou para "idéia", ficou feliz em 1971 porque "idéia" passou incólume, mas agora vai escrever "ideia", sem acento.
Reformas ortográficas são quase sempre um exercício vão, por dois motivos. Primeiro, porque tentam banhar de lógica o que, por natureza, possui extensas zonas infensas à lógica, como é o caso de um idioma. Escreve-se "Egito", e não "Egipto", mas "egípcio", e não "egício", e daí? Escreve-se "muito", mas em geral se fala "muinto". Segundo, porque, quando as reformas se regem pela obsessão de fazer coincidir a fala com a escrita, como é o caso das reformas da Língua Portuguesa, estão correndo atrás do inalcançável. A pronúncia muda no tempo e no espaço. A flor que já foi "azálea" está virando "azaléa" e não se pode dizer que esteja errado o que todo o povo vem consagrando. "Poder" se pronuncia "poder" no Sul do Brasil e "puder" no Brasil do Nordeste. Querer que a grafia coincida sempre com a pronúncia é como correr atrás do arco-íris, e a comparação não é fortuita, pois uma língua é uma coisa bela, mutável e misteriosa como um arco-íris.
Acresce que a atual reforma, além de vã, é frívola. Sua justificativa é unificar as grafias do Português do Brasil e de Portugal. Ora, no meio do caminho percebeu-se que seria uma violência fazer um português escrever "fato" quando fala "facto", ou "recepção" quando fala "receção", da mesma forma como seria cruel fazer um brasileiro escrever "facto" ou "receção" (que ele só conhece, e bem, com dois ss, no sentido de inferno astral da economia). Deixou-se, então, que cada um continuasse a escrever como está acostumado, no que se fez bem, mas, se a reforma era para unificar e não unifica, para que então fazê-la? Unifica um pouco, responderão os defensores da reforma. Mas, se é só um pouco, o que adianta? Aliás, para que unificar? O último argumento dos propugnadores da reforma é que, afinal, ela é pequena - mexe com a grafia de 600, entre as cerca de 110.000 palavras da Língua Portuguesa, ou apenas 0,54% do total. Se é tão pequena, volta a pergunta: para que fazê-la?
Fala-se que a reforma simplifica o idioma e, assim, torna mais fácil seu ensino. Engano. A representação escrita da língua é um bem que percorre as gerações, passando de uma à outra, e será tão mais bem transmitida quanto mais estável for, ou, pelo menos, quanto menos interferências arbitrárias sofrer. Não se mexa assim na língua. O preço disso é banalizá-la como já fizeram com a moeda, no Brasil.
(Roberto Pompeu de Toledo - Veja, 24.05.95.Texto adaptado pela equipe de Língua Portuguesa da COPEVE/UFMG.)
quarta-feira, 23 de abril de 2008
Sou péssima pra títulos...
Na loucura em que se vive hoje - com mil coisas pra ver, ouvir, falar, decidir, fazer, pensar - às vezes parece que as pessoas perdem a sensibilidade. Mais que isso, esquecem de olhar o lado belo das coisas, pelo simples e fraco pretexto da falta de tempo.
Hoje de manhã, por exemplo, quem viu as teias de aranha cheias de orvalho? Quem reparou que, no fim da tarde, havia nuvens rosadas espalhadas pelo céu azul, numa visão digna de pintura renascentista? Quem vê os passarinhos felizes e as folhas das árvores radiantes depois da chuva? Tanta coisa que está na nossa frente todos os dias, mas pouca gente percebe. Pouca gente se permite perceber. Preferem esperar as férias, onde tudo vira motivo pra admiração. Por que?
Por que as pessoas tiram fotos do pôr do sol na praia, mas sequer olham para o sol se pondo no dia-a-dia? Por que elas vêem tanta graça nas aves que sobrevoam os campos, mas nunca repararam que há famílias de pássaros brincando nas árvores pelas quais passam diariamente? Por que fazem fogueiras sob o luar, mas nem lembram que existe lua quando voltam pra casa à noite?
Pensei, pensei, mas não consegui achar nem sinal de resposta. Tem gente que me acha estranha por enxergar tudo isso, por querer que os outros também enxerguem, e por ficar questionando tanto - me olham como se eu fosse um bicho exótico, ou como se eu precisasse de uma camisa de força. Mas é que eu não entendo como as pessoas podem ficar tão imersas na sua neurose a ponto de esquecer que existe tanta vida em volta. Reclama-se tanto da desumanização que a vida urbana traz, mas as pessoas é que se lançam nisso, sem nem titubear. Fala-se que a vida está ruim, que o tempo é curto, mas a vida e o tempo são o que se faz deles.
Não entendo, realmente, como as pessoas querem salvar a humanidade, a natureza, o planeta, querem mudar o mundo mas não chegam nem a tentar mudar coisas sutis em suas próprias vidas. Não entendo por que as pessoas só se dão conta de que existe beleza em torno de si na viagem de férias ou, pior, quando essa beleza já está sufocada, esquecida, ameaçada por essa cegueira insana que tomou conta da dita civilização.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
Passos adiante
E hoje eu voltei pra casa com uma carteirinha provisória, telefones de veteranos, e-mail "@usp.br" e tudo... e estou achando lindo =P
Não que sair de casa e ir morar a mais de 300km de distância tenha sido, algum dia, objeto de desejo na minha vida. Mas parece que as coisas estão indo bem, não estou com aquele medo, aquela insegurança esquisita que eu já experimentei antes (e há pouco). E, depois de tantas tentativas e tanta dúvida, sentir que as coisas estão tomando um rumo é bastante confortante.
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Depois de uns bons anos de amizade, começo a perceber como a gente cresceu (!). A gente se reúne como antes (embora com menor freqüência, infelizmente), dá risada como antes, repete alguns assuntos de sempre. Mas agora, engraçado, aparecem assuntos novos, e a gente até parece gente grande (!!) falando de futuro, de casa, carro, filhos até (embora os planejemos para um futuro relativamente distante, claro), e de como estamos ficando velhas (!!!)... hahahahaha
A Giu fez falta, óbvio. Mas estamos confiantes de que ela melhore logo e possamos nos reunir, todas, o quanto antes.
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
O Retorno da Múmia =O
Enfim, a imagem surgiu, eu a espantei e me peguei a pensar no que ia escrever pra reinaugurar meus escritos. Mas a múmia resolveu me perseguir. Eu divagando por entre idéias, sentimentos e tal, e a múmia aparece caminhando num canto, com aquele andar robótico. Por que será que elas andam daquele jeito? E por que elas sempre têm ataduras soltas nos braços? E, aliás, por que elas (bem como toda sorte de outros mortos-vivos) sempre andam com os braços para frente?
Uma vez eu acordei no meio da noite com um dos braços erguido para o alto, que nem múmia quando vai levantar, e não sei até hoje como ele foi parar lá. Eu sonho bastante, mas atos sonâmbulos nunca foram minha praia.
Bom, mas de volta às múmias, ainda vou aprender como elas fazem pra levantar daquele jeito: todas eretas (uuuuuuh! hahahaha, esse cursinho!!!), os braços sempre adiante do corpo. Sem apoio nenhum! Sem nem ao menos dobrar os joelhos pra ter impulso. Fabuloso! Mas deve exigir uma musculatura poderosa - e cadavérica, já que eu só vi mortos-vivos fazerem isso. Acho que quando eu morrer vou tentar.