quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sobre o que aprendi no feriado

Teoria narrativa consiste em aplicar uma série de técnicas no sentido de fazer uma pessoa mudar seu jeito de narrar uma mesma história. A pessoa chega contando uma série de coisas negativas e você, com umas perguntinhas aqui, uns comentários ali, faz com que ela conte a mesma história de um ponto de vista menos pessimista - o que ajuda a tornar as coisas um pouco melhores, logo de cara. Exemplo simples: vou contar brevemente como foi meu feriado, sem contar nenhuma mentira, de duas formas diferentes.

1) Em vez de ir pra casa cedo na sexta, fiquei colando painéis a tarde toda. Tarde da noite, jantei um lanche gorduroso em um lugar estranho, dormi pouco, e fui passar o feriado em um Congresso lááá em Minas. Lá, ficamos em filas pra tentar ver as oficinas (porque não tínhamos nos inscrito), assistimos e também conhecemos um cara que era um perfeito idiota. Estava quente, a cidade não era grande coisa e o ar estava muitíssimo seco. Minha amiga minha passou mal, e eu tive dor de cabeça no último dia. Pra piorar, eu estava com uma tosse horrível. Acordamos cedo vários dias, e andamos muito naquele sol inclemente. Na volta, nosso ônibus ficou 40 minutos parado porque o limpador de pára-brisa não estava funcionando.

2) Depois da aula na sexta, fiquei jogando conversa fora com minhas amigas e fui colar painéis. Fiquei um tempão brincando com cola, foi divertido. À noite, jantamos em um lugar que tinha umas maioneses diferentes, temperadas, muito boas. No dia seguinte fomos pra Uberaba, no Congresso de Medicina de Família e Comunidade (que é um tema que me interessa muito), e participamos de várias oficinas interessantes e divertidas. Tínhamos perdido as inscrições pra essas mesmas oficinas mas, por sorte, conseguimos ver praticamente tudo o que queríamos. Conhecemos gente legal, tivemos discussões produtivas... Eu estava com tosse, mas várias pessoas se solidarizaram - desde os colegas até o garçom do hotel, todos muito simpáticos e me oferecendo água e receitas milagrosas pra tosse. Comemos pão-de-queijo, e encontramos um lugar que vendia sorvete muito barato. Na volta, fomos abençoados com chuva (que não víamos há tempos) e, mesmo com um imprevisto, não chegamos em casa muito mais tarde do que imaginávamos.

Viram? O mesmo feriado, duas versões completamente diferentes.
Mas, confesso, o primeiro exemplo que me ocorreu foi o seguinte:

1) Congresso, palestras, acordar cedo, sol, ar seco, tosse, dor de cabeça.
2) Dia do sexo, Bombs, batida de morango com leite condensado e cachaça, nosso quarto de hotel (com banheira).

;D

Pra vocês verem como tudo é relativo, e depende de como se conta ;)
Seus pervertidos! =p

***


Anotações de uma apresentação sobre saúde mental:

Desterritorialização.
Extrapolar os próprios limites por incapacidade de lidar com o caos interno (desencadeando explosões, surtos).
Importância de restabelecer os limites (do próprio corpo, inclusive) para ajudar a superar crises - cobertor, piscina, abraço.
Angústia

[e então eu aprendi a definir o que, no fundo, eu já sentia e sabia faz tempo: quando eu preciso do seu abraço, não é só ao seu calor que eu busco. Eu procuro principalmente essa capacidade que você tem de me devolver pra mim mesma]

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sobre a viagem - parte IV (de volta a Viena)

Quando tiver uma oportunidade, assista a uma novela russa: é realmente engraçado. Tive a oportunidade de ver no hotel, quando voltamos a Viena, e conferir o mocinho scarface, a mocinha com dentes bizarros e os diálogos (que são em russo, precisa dizer algo mais?). O programa deles que simula julgamentos também é engraçado, com aquele ar trash de programa do SBT. Falando em Rússia, a embaixada deles em Viena ficava bem atrás do nosso hotel, com uma igreja ortodoxa linda, de cúpulas douradas que brilhavam sob o sol. 

No saguão do hotel, já vimos meia dúzia de brasileiros de verde-e-amarelo, se preparando pra ver o jogo Brasil x Holanda e curtir sua histeria juntos. Sentimos um pouco de vergonha alheia, e nos esforçamos pra atravessar o saguão sem que nossa nacionalidade fosse identificada por nossos compatriotas. Brasileiro tem mania de achar que, só porque vocês são do mesmo país, são obrigatoriamente amigos de infância. Não, querido, eu não sou seu amigo, eu nunca te vi e não vou participar disso e deixar os transeuntes pensando que brasileiro é tudo retardado. É, eu sou antissocial. Mas prometo que vou tentar ser menos preconceituosa.

À noite, fomos ver um concerto no palácio Auersperg, muito bonitos (o concerto e o local). Eu não entendo nada de música, mas eu sei que era lindo de se ouvir, isso me basta. Depois fomos pra um jantar com comida típica mediana e garçonetes a caráter e mal-humoradas. Durante o jantar, dois caras tocavam músicas típicas da Áustria e dos países de origem dos turistas presentes. Tocaram um bocado de boleros mexicanos, alguns tangos argentinos e, quando alguém pediu uma brasileira, eles tocaram Aquarela do Brasil, é claro (que todo mundo conhece mas, no fundo, ninguém sabe cantar). Pediram mais, e eu desconfiei que os caras não soubessem. Ah, não, sempre tem também Garota de Ipanema pra poupar esse constrangimento. Mas não peçam mais que isso. Aliás, sugiro que não peçam nem isso - os boleros e tangos e pasodobles estavam bem mais divertidos.

No ônibus de volta, colocaram um CD com músicas supostamente lat(r)inas, pra agradar os turistas. Aí tinha um bocado de reggaeton, e de repente começou algo brega, em português. Português de Portugal, mas era português, uai. Qual não foi nossa surpresa ao constatar o que diziam os versos da canção: 

"Eu gosto de mamar nos peitos da cabritinha
Mamo a hora que eu quero, porque a cabrita é minha"
(A Cabritinha - Quim Barreiros)

No dia seguinte, fomos conhecer os belos jardins do palácio Belvedere e o Palácio Schöbrunn - que tem jardins mais bonitos ainda e foi residência da chatinha da Sisi e da fodona Imperatriz Maria Teresa (mãe da Maria Antonieta, aliás), além de ter sido palco de um concerto de Mozart quando ele ainda era criancinha. Passamos em frente a um Museu de Medicina (que eu queria visitar, especialmente porque foi em Viena que surgiu essa história de lavar as mãos pra controle de infecções) mas, pra minha infelicidade, não deu pra ir visitar. Assim como não deu pra ir ver O Beijo, do Gustav Klimt, e nem dar uma passadinha no café Sacher pra um pedaço de torta... É, excursão tem disso mesmo: a gente corre, não vê metade do que queria, mas pelo menos já tem uma boa ideia do que visitar quando vier da próxima vez. ;)


O que me decepcionou mesmo em Viena foi o Danúbio. Eu imaginava que ele era lindo como o Sena, só que azul e com casais dançando valsa à margem. Lindo de passear ao longo dele, ouvindo Vienna ou mesmo aquela clássica do Strauss Jr. Mas ele não é lindo, muito menos azul. Mas dei a ele mais uma chance, em Budapeste...