segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sobre a beleza

Eu me dirigia à minha carteira pra mais três dias de vestibular quando a vi. Ela estava sentada, lendo, à janela - e na minha lembrança parece que o sol a iluminava brandamente, mas talvez seja só poesia da minha memória. O corpo de proporções ideais dentro da simplicidade do jeans e regata, os cabelos negros e cacheados emoldurando um dos rostos mais belos que eu já vi. Ela se dirigiu a alguém e eu pude ver seus olhos muito azuis e seus dentes perfeitos. E, até que minha prova começasse, eu não consegui fazer outra coisa senão contemplá-la.


Mais do que a simples beleza - que ela tinha de sobra e parecia nem se dar conta - ela tinha, não sei, algo de muito encantador. E eu quis até dizer pra ela que a achava muito bonita (não disse, porque pensei que ela ia achar muito estranho e/ou inconveniente). Mas, mais que isso, eu quis ser como ela. Porque, assim, eu aturdiria àquele vinha me atordoando. Eu achava que, com aquelas feições, eu lhe seria irresistível e o deixaria deslumbrado do mesmo modo como eu o vira deslumbrar-se com outras. Tolices, tolices...


Hoje, ainda, eu às vezes acordo com vontade de ser estonteantemente bela. Dessas belezas de comercial de absorvente, que andam na rua com vestidos esvoaçantes e dão torcicolo em todos os homens pelos quais passam. E penso que, se cuidasse um pouco da minha aparência, eu até poderia atrair alguns olhares. Mas isso não basta - nesse dias eu queria era parar o trânsito mesmo, no maior estilo sou-uma-diva.

Outras vezes, eu me pego desejando ter outro tipo de beleza (que nem sei se pode se chamar assim): aquela aura encantadora que certas pessoas têm e fazem a gente se apaixonar por elas no primeiro sorriso. Uma espécie de beleza doce que parece ter nascido com elas e que eu sei que nunca vou ter, apesar do meu esforço diário. Uma beleza que enternece, e faz sorrir e pensar em como é bom estar presenciando aquilo.


E, por vezes, ainda conservo um pouco da tolice de tantos anos atrás, e perco milissegundos acreditando que talvez a aparência seja o problema e que, se eu acordasse milagrosamente diferente, talvez ele me notasse como eu gostaria. Tolices, ah, tolices...

"Passa
Como que nua
Calma
Finge que voa
Brasa
Chama na areia
Bela
Como eu queria


Magra, leve, calma
Toda ela bela
Tudo nela chama "


(Magra - Lenine/ Ivan Santos)

Um comentário:

Anônimo disse...

"Uma beleza que enternece, e faz sorrir e pensar em como é bom estar presenciando aquilo."

Às vezes eu queria ter essa "beleza" também. Porque enquanto a beleza da diva que pára o trânsito eventualmente vai sumir, essa nasceu com a pessoa e vai morrer com ela e é mil vezes mais perigosa que simplesmente a beleza física, por mais linda que a beleza física seja. O encanto e o charme são sempre muito mais perigosos - e sedutores. E por isso mesmo eu gostaria de tê-los.

Fazer o quê. Também gosto da sensação de ficar encantada e seduzida e hopeless.

É nozes, vizinha! =***