quinta-feira, 16 de junho de 2011

Sobre a Loucura e o vazio

 "Il y a toujours quelque chose d'abient qui me tourmente"
(Camille Claudel, em carta a Rodin)

"Mis ojos no paran de mirar y mirar
El oscuro pedernal de las ideas
Buscando más huecos dentro de este hueco
Buscando una luz en medio de este cielo"
(Te espero sentada - Shakira)

Sentir algo crescendo, crescendo, crescendo dentro de mim, até um ponto em que parece não caber mais. E então olhar pra dentro e ver que tudo isso que está me oprimindo de dentro pra fora, estirando minha pele até quase romper, incomodando, angustiando, machucando, tudo isso não passa de vazio e loucura. Sim, os mesmos vazio e loucura que sempre estiveram aí, às vezes escondidos ou amordaçados, mas sempre aí (aqui).

A Loucura, essa companheira de tanto tempo, resolve me mostrar sua face cruel. Louca varrida e sádica, não só me sussurra intrigas nos ouvidos como agora, forte e rouca, me grita seus delírios e suas mentiras disfarçadas de verdades. E talvez nem sejam tão bem disfarçadas, mas eu, insegura, acredito nelas piamente. A Loucura justifica seus delírios com argumentos frouxos e frágeis, mas eu, que me creio mais frágil ainda, dou-lhe razão.

E o vazio crescendo, crescendo... Não devia crescer assim, não tem motivos, as coisas estão bem, eu esperava até que ele diminuísse. Mas ele, alheio à lógica, vai ocupando cada espaço, enquanto a Loucura ri doentiamente e segue gritando seus impropérios. E isso segue noites (e mesmo dias) adentro, numa espiral descendente que parece nunca ter chão - dando a impressão de que não importa o quanto eu tente preenchê-lo, o vazio vai continuar aqui dentro expandindo, expandindo, expandindo... até que ouço um estalo, e minha armadura - agora fendida - deixa escapar gotas de agonia em forma de água com sal.