Farinha láctea só fui experimentar lá pelos 15 anos, depois de muito ouvir reminiscências infantis alheias. E qual não foi meu choque ao provar a primeira colherada e dizer, quase automaticamente: "Hm, tem gosto de infância". E tem mesmo. Uma infância que não me pertence, mas enfim, infância.
Entre as comidas que me lembram minha própria infância, constam coisas não muito comuns: tortilla (do vovô), mingau de maisena (da mamãe), bolinho de espinafre e fígado acebolado (da AABB. Sim, eu comia isso na escolinha. E até hoje adoro.)... D'além-mar, lembro de virem as amêndoas confeitadas e os turrones. Hoje ainda trazemos turrones El Almendro (além de muito Milka, Lindt, Toblerone e conhaque), mas as amêndoas eu não como há muito tempo - só vezenquando, quando vêm em alguma lembrancinha. Lembro que vinham dentro de uma lata média, e eram lindas, coloridas, com aquele cheiro convidativo de açúcar. E, claro, aquele sabor doce que ia se desfazendo lentamente na boca... pra ir dando lugar a um desfecho desagradável. Eu, então, tirava da boca uma coisa meio oval, meio pontuda, feia, marrom e de gosto ruim. Naquele tempo, eu me perguntava por que é que não faziam uma amêndoa confeitada sem amêndoa. Por que, afinal, estragar algo tão gostoso?
Lembro da doçura (mais idealizada que real) sabendo que isto aqui, na minha boca, é muito menos saboroso, e mesmo assim mastigo com força, até com certa vontade. Talvez porque eu ache que é o que me restou, talvez porque... sei lá. E às vezes, com o gosto ainda na boca, acho que não vale a pena e anoto mentalmente: "Evitar". Mas aí eu lembro (ou sinto) a sedução do cheiro açucarado... e lá vou eu de novo. E me pego dizendo pra mim mesma que, afinal, eu não tenho por que esperar mais que isso. A vida não é feita só de confeitos coloridos. E volta a pergunta da infância: por que não?