terça-feira, 23 de novembro de 2010

Sobre a (des)ilusão das amêndoas

Farinha láctea só fui experimentar lá pelos 15 anos, depois de muito ouvir reminiscências infantis alheias. E qual não foi meu choque ao provar a primeira colherada e dizer, quase automaticamente: "Hm, tem gosto de infância". E tem mesmo. Uma infância que não me pertence, mas enfim, infância.
Entre as comidas que me lembram minha própria infância, constam coisas não muito comuns: tortilla (do vovô), mingau de maisena (da mamãe), bolinho de espinafre e fígado acebolado (da AABB. Sim, eu comia isso na escolinha. E até hoje adoro.)... D'além-mar, lembro de virem as amêndoas confeitadas e os turrones. Hoje ainda trazemos turrones El Almendro (além de muito Milka, Lindt, Toblerone e conhaque), mas as amêndoas eu não como há muito tempo - só vezenquando, quando vêm em alguma lembrancinha. Lembro que vinham dentro de uma lata média, e eram lindas, coloridas, com aquele cheiro convidativo de açúcar. E, claro, aquele sabor doce que ia se desfazendo lentamente na boca... pra ir dando lugar a um desfecho desagradável. Eu, então, tirava da boca uma coisa meio oval, meio pontuda, feia, marrom e de gosto ruim. Naquele tempo, eu me perguntava por que é que não faziam uma amêndoa confeitada sem amêndoa. Por que, afinal, estragar algo tão gostoso?



Lembro da doçura (mais idealizada que real) sabendo que isto aqui, na minha boca, é muito menos saboroso, e mesmo assim mastigo com força, até com certa vontade. Talvez porque eu ache que é o que me restou, talvez porque... sei lá. E às vezes, com o gosto ainda na boca, acho que não vale a pena e anoto mentalmente: "Evitar". Mas aí eu lembro (ou sinto) a sedução do cheiro açucarado... e lá vou eu de novo. E me pego dizendo pra mim mesma que, afinal, eu não tenho por que esperar mais que isso. A vida não é feita só de confeitos coloridos. E volta a pergunta da infância: por que não?

domingo, 7 de novembro de 2010

Sobre a viagem - parte V (Budapeste)



Buda, o Danúbio e Pest ao fundo, com destaque para o parlamento húngaro.

Budapeste foi, sem dúvida, eleita minha preferida. Logo de cara, o Danúbio me surpreendeu: lindo, coberto de belas pontes e rodeado por uma cidade igualmente bonita. Aí passeamos um pouco, conhecemos Buda - quente, graciosa e com um mirante espetacular - e fomos pro hotel em Pest (um senhor hotel com direito a pantufas pra cada hóspede e essas coisas phynas). Indicaram-nos o café New York, que era ali pertinho, e fomos com roupas e cara de turistas, sem imaginar quão requintado era o ambiente. Mas tudo bem, turista tem direito de ser cafona, usar roupas largadas e ainda ficar boquiaberto com a decoração. Comemos muitíssimo bem por lá e pudemos provar alguns doces húngaros, como as tortas Dobos e Esterházy, além de um pedacinho de fatias Gerbeaud/Zserbó (que veio junto com o café, mas que eles infelizmente não vendiam - eu até quis ir até a Gerbeaud pra comer as originais, mas era meio longe pra ir a pé e estávamos todos bem cansados).
Torta Esterházy. Atrás, torta Dobos.
À noite fomos a um jantar típico húngaro: tomamos palinka (bebida licorosa típica, parecida com anis, de cerca de 40°GL), comemos goulash (sopa/guisado de carne, batatas e páprica) e outras coisas, tomamos o elogiado vinho húngaro e assistimos a uma bonita apresentação de danças típicas. Após o jantar, descemos até o Danúbio (ouvindo uns reggaeton e rumbas) pra um passeio de barco. Simplesmente lindo.
No dia seguinte pudemos conhecer um pouco melhor Pest: visitamos uma das sinagogas da cidade (onde eles emprestam um kipá de TNT pra os homens gói entrarem), o parlamento, a ópera e a basílica de Santo Estêvão - S. István, o rei húngaro e santo que ocupa o altar principal, em vez de Jesus Cristo, e cuja mão direita é exibida diariamente na basílica (mas não vimos).
Dois dias, só dois dias... Mas foi o suficiente pra eu me encantar com a cidade, e com o povo húngaro - que parece ser todo parente da D. Maria e da D. Helena, e que sorri genuinamente quando a gente se esforça pra dizer 'obrigada' na difícil língua magiar ('Közsönöm'), que é diferente de tudo que já se ouviu (tem raízes comuns apenas com o finlandês).
Como muitas cidades do Leste Europeu, Budapeste carece de um pouco mais de cuidados - que, faltando, prejudicam a beleza da arquitetura dos edifícios antigos, que dão todo o charme a uma caminhada rápida pela cidade. Espero poder voltar lá e vê-la restaurada, cuidada, linda como tem que ser.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Random

Eu me lembro da véspera da minha mudança pra Ribeirão. Pra variar, eu passei a tarde inteira na casa dos meninos - desenhos, risadas e essas coisas boas da vida - e, pra variar, meus pais tinham me ligado infinitamente, lá pelas oito da noite, pra eu ir pra casa jantar e fazer as malas. E fui, na companhia do Felipe, que ia pra academia e me acompanhou até uma parte do caminho.

Quando nos despedimos - aquele abraço longo do qual eu nunca quero me soltar - eu perguntei, infantil:
 -Você promete que vai me visitar?

 E ele, com aquele ar de obviedade:
 -Ahm... Não.


E, diante da minha expressão de choque e drama, me explicou que não era certo me fazer promessas que não ia cumprir.